tag:blogger.com,1999:blog-90734400608257548442024-02-20T19:28:02.510-08:00CONSULTÓRIO DE PSICOLOGIAconsultas de Psicologia Dinâmica centrada na auto-regulação voluntária e consciente do comportamento pessoalPortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.comBlogger67125tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-53818555830846911842023-08-10T07:53:00.003-07:002023-08-10T07:59:07.396-07:00II Encontro Internacional de Solidariedade Intergeracional<p style="text-align: center;"> Nos dias 7 e 8 de Setembro, na Amora e no Seixal.</p><p style="text-align: center;">Inscrição grátis na Junta de Freguesa da Amora (jfamora@jf-amora.pt).</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEimBAE3yWUX8jwhNj5f5XLnA-_w__v66X45aJBmG5fFgFjCYRRbBpnPZa3V-nHQ5XAmNzWM5d1z_Mj6VxsZFvV5NUtUOorBB2E-du7b2Nfvy2RIeEVd-QpPGPVMqJYHSEROVjHULb4P_OP16J649mvjm3QTJLqHvYEPax4TaUxxFJRzgUsnsn0ZMCwFUAcD" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="1194" data-original-width="843" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEimBAE3yWUX8jwhNj5f5XLnA-_w__v66X45aJBmG5fFgFjCYRRbBpnPZa3V-nHQ5XAmNzWM5d1z_Mj6VxsZFvV5NUtUOorBB2E-du7b2Nfvy2RIeEVd-QpPGPVMqJYHSEROVjHULb4P_OP16J649mvjm3QTJLqHvYEPax4TaUxxFJRzgUsnsn0ZMCwFUAcD=w451-h640" width="451" /></a></div><br /><br /><p></p>PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-81264359860505309112021-07-01T14:18:00.002-07:002021-07-01T14:19:11.560-07:00MORREU O ÚLTIMO DA GERAÇÃO DE FORMADORES DA PSICANÁLISE QUE ME MOLDOU<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgamgzDndqce-zhV1qrddtyuNEUvxtT7grz_rnW3S4GHArmALftD_XykHqegH1j95QpT6mTYR9Wxr-Vp_yWj1ReEbukND1aqFXpcAXHkH0ubJjuL0pH9X7XeMSGGZp62qM_IiZdjODJX_ns/s1199/A+Coimbra+de+Matos.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1199" data-original-width="800" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgamgzDndqce-zhV1qrddtyuNEUvxtT7grz_rnW3S4GHArmALftD_XykHqegH1j95QpT6mTYR9Wxr-Vp_yWj1ReEbukND1aqFXpcAXHkH0ubJjuL0pH9X7XeMSGGZp62qM_IiZdjODJX_ns/w268-h400/A+Coimbra+de+Matos.jpg" width="268" /></a></div>MORREU O ÚLTIMO DA GERAÇÃO DE FORMADORES DA PSICANÁLISE QUE ME MOLDOU<br /><br /><br />João dos Santos, Maria Rita Mendes Leal (grupanalista), Pedroso Flores, Francisco Alvim, Pedro Luzes e Teresa Ferreira.<br /><br />O último, António Coimbra de Matos. Morreu hoje.<br /><br />Em rigor, nunca foi meu professor. Li muitos dos seus textos, assisti a muitas das suas palestras e supervisão de casos; eu próprio tive vários casos clínicos supervisionados por ele.<br /><br />Nunca foi, nessa condição, um mestre que me agradasse especialmente. Senhor de um discurso clínico muito contundente, as suas concepções enraizavam-se no que de mais radical a Psicanálise produziu, num linguajar carregado da mais restrita mitologia sexual inconsciente como causa das perturbações da saúde mental.<br /><br />Acontece que nunca duvidei que nele tinha eu um mestre que muito tinha para me ensinar e com quem eu muito poderia aprender; por isso nunca deixei de aproveitar as oportunidades que tive para o ouvir e ler.<br /><br />Quando João dos Santos morreu, António Coimbra de Matos, objectivamente e aos meus olhos, ganhou outra dimensão. Foi com muito agrado que o vi ir-se transformando, trazendo-nos explicações e interpretações menos radicais das perturbações mentais e da intervenção psicoterapêutica.<br /><br />Do ponto de vista da Cidadania, foi com entusiasmo que me reconheci no seu radicalismo de denúncia das condições políticas e sociais injustas que mantêm a exploração e o domínio de muitos por poucos — é que essas condições é que são as causas das mais profundas perturbações do bem-estar das pessoas. Neste campo, sim, quis — e quero! — manter-me tão radical quanto ele.<br /><br />A partir de hoje, eu e a minha geração deixámos de ter, atrás de nós, na nossa rectaguarda, o último farol para que de vez em quando olhávamos à procura da palavra ou do pensamento que nos guiasse na dúvida, na incerteza ou no desconhecimento.<br /><br />Sinto que agora é a minha geração que tem de manter os faróis bem iluminados para as gerações que nos seguem — senti-o hoje no mais profundo da minha pele, no mais profundo do meu ser.<br /><br />Não podemos negar esse papel, temos de saber merecer os mestres que tivemos, temos de testemunhar-lhes a nossa mais profunda gratidão. Mais que com palavras, com actos.<br /><br />Os nossos mestres vão continuar a manter os faróis a guiar-nos dentro de nós mesmos. Saibamos nós, com alegria, com crença, com determinação, com rigor, com humildade e com devoção, propormo-nos como guias para as mais novas gerações de aprendizes de feiticeiros.<br /><br />No profundo sentimento de aconchego que neste momento os meus formadores na Psicanálise me despertam, eu envolvo os meus queridos colegas que a partir do ano de 1979 embarcaram comigo na fascinante viagem da Psicologia Clínica; alguns mais se foram juntando pelo caminho — para estes, a intensidade do abraço é a mesma. <p></p>PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-33401129746739390122020-03-23T02:10:00.000-07:002020-03-23T02:17:46.667-07:00COVID-19: A GESTÃO DA ANSIEDADE, 1<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPQS8VkfdpXb1m6k9W2jNVwPU31v638jdVtcZ0JngI6IMgUm-aR-zFrHFl0ssWLqJcQwxWtL7-jnQLhdWYAHV3_KUemwUTSMFt8CWcnyYOmmOUNtFjC_tW6EtFtd_WefwfsncHOFNWmxE8/s1600/Maratona.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="679" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPQS8VkfdpXb1m6k9W2jNVwPU31v638jdVtcZ0JngI6IMgUm-aR-zFrHFl0ssWLqJcQwxWtL7-jnQLhdWYAHV3_KUemwUTSMFt8CWcnyYOmmOUNtFjC_tW6EtFtd_WefwfsncHOFNWmxE8/s400/Maratona.jpg" width="281" /></a></div>
<span style="font-size: large;">COVID-19: A GESTÃO DA ANSIEDADE, 1</span><br />
<span style="font-size: large;"><br />Não olhes já para a meta. Não a vais ver, e ficarás aflito - podes sentir-te incapaz e indefeso.<br />Olha só para os passos que podes dar hoje. Um dia terás a meta à vista.<br />É uma corrida individual, mas não é solitária, estamos todos nela.<br />Boa prova!</span>PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-86615436334618981192019-11-02T01:45:00.000-07:002019-11-02T07:55:37.183-07:00As razões do ódio: do primeiro episódio da série de Spielberg<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiW9bVxgoO-JcURLByjWVZ96_oWJHCDW6siMxhqcmr5kD_z4JI-edWAAAJnI9MNMwaGQAVXa3FZvRASP_mxPB0_0HxFv3vlkAtrakJe1NV7VVXzrxfDitz2pIbTWsDYdgC1b7EtJtavCmza/s1600/Why+we+hate.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="136" data-original-width="370" height="146" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiW9bVxgoO-JcURLByjWVZ96_oWJHCDW6siMxhqcmr5kD_z4JI-edWAAAJnI9MNMwaGQAVXa3FZvRASP_mxPB0_0HxFv3vlkAtrakJe1NV7VVXzrxfDitz2pIbTWsDYdgC1b7EtJtavCmza/s400/Why+we+hate.jpg" width="400" /></a></div>
<b>Do primeiro episódio: AS ORIGENS</b><br />
<ul>
<li>Naturalmente, os autores foram procurar a expressão da agressividade e do ódio noutras espécies animais, sobretudo das que estão geneticamente mais próximas da nossa.</li>
<li>Constataram coisas muito interessantes, e deram grande relevância às semelhanças e diferenças que existem entre espécies tão próximas, tantas vezes confundidas entre si: os chimpanzés e os bonobos.</li>
<li>Os chimpanzés expressam de forma bem mais intensa a agressividade e o ódio; e a competição, nos chimpanzés. Os bonobos são mais pacíficos e solidários.</li>
<li>As explicações são genéticas e ambientais. A disputa de comida ou a abundância de alimento disponível fazem a parte de leão da explicação das diferenças. A fazer lembrar o ditado popular "Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão".</li>
</ul>
<blockquote class="tr_bq">
<i><b>A estas constatações, que acrescento eu? </b></i><br />
<ul>
<li><i>Que, como tantos autores observam, provam e afirmam desde os primórdios das civilizações - por exemplo, os gregos clássicos; os Abel e Caim das bíblias; os contemporâneos Richard Dawkins e António Damásio -, a agressividade é uma característica básica da nossa espécie - biológica, genética. Está ao serviço da vida, e a vida reclama, muitas vezes, competição. É verdade, não há Paraíso terreno, tanto para os que crêem em Deus, como para todos os outros.</i></li>
<li><i>Que vale muito o pensamento de Konrad Lorenz em que ele afirma que, no fundo, as diferentes experiências civilizacionais expressam muitas das tentativas dos grupos humanos para controlar, através do estabelecimento de rituais no contacto pessoal, seja entre conhecidos, seja entre desconhecidos, a manifestação da agressividade. Atenção! Está ele a falar da manifestação da agressividade que não serve a Vida, pelo contrário, põe em perigo a vida dos grupos humanos e das pessoas.</i></li>
</ul>
<i><b>Que percepção tenho eu do que está a acontecer?</b></i><br />
<ul>
<li><i>Que estamos em pleno tempo de grave extinção de espécies culturais e civilizacionais.</i></li>
<li><i>Que quero eu dizer com isto? Genericamente penso que, juntámos<br />- um desenvolvimento social e comunicacional positivo (acesso mais livre, rápido, pessoa e directo à informação; e à muito acrescida possibilidade de todos comunicarem directamente com todos),<br />- a pressa em comunicar (reduzindo imenso a reflexão sobre a informação acedida),<br />- e a expressão de opiniões e tomadas de decisão mal informadas e avidamente moldadas por necessidades emocionais perturbadores,<br />- a soma, no fim, é um muito mau resultado.</i></li>
</ul>
<i><b>Em que resultou este muito pouco saudável comportamento aditivo?</b></i><br />
<ul>
<li><i>Desdenhamos dos rituais civilizacionais, atacamo-los; e tudo o que sugira regulação ou controlo do comportamento pessoal e social é tomado como injusto, racista, xenófobo, discriminatório, excluidor. Cada vez mais praticamos, com raiva e intolerância crescentes, a velha imagem de deitar fora a água suja do banho do bebé e também o próprio bebé.</i></li>
<li><i>Das diferenças naturais fazemos oposições radicais em que só há o Zero e o Um: ou és dos nossos ou estás contra nós; ou pensas como nós e és porreiro e sábio, ou pensas outras coisas e és mau, perigoso e ignorante.</i></li>
</ul>
</blockquote>
PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-4353765925941591802019-10-29T13:45:00.001-07:002019-10-29T13:48:44.057-07:00″A Ordem da Fénix de Harry Potter dá um quarto de milhão de oportunidades para uma criança aprender″ - DN<blockquote class="tr_bq">
<i>O neurocientista Johannes Ziegler considera que o sucesso na área da educação depende, em grande parte, da aplicação dos conhecimentos que a psicologia cognitiva tem para dar. Vem esta quarta-feira a Portugal debater o tema na Fundação Francisco Manuel dos Santos.</i></blockquote>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://static.globalnoticias.pt/dn/image.aspx?brand=DN&type=generate&guid=47b4d030-f89d-4628-bd11-50826394697d&w=800&h=450&t=20191029142755&fxguid=1138139a-3834-446d-b569-cd946cfb20ea" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="Johannes Ziegler é um reconhecido neurocientista em França. Estará em Portugal no final do mês para debater" border="0" height="223" src="https://static.globalnoticias.pt/dn/image.aspx?brand=DN&type=generate&guid=47b4d030-f89d-4628-bd11-50826394697d&w=800&h=450&t=20191029142755&fxguid=1138139a-3834-446d-b569-cd946cfb20ea" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #f7f7f7; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; display: inline; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; line-height: 1.23077; margin: 0px; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">
<span style="font-size: xx-small;">Johannes Ziegler é um reconhecido neurocientista em França.<br />Estará em Portugal no final do mês para debater sobre<br />o papel da psicologia cognitiva na educação</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #f7f7f7; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; display: inline; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; line-height: 1.23077; margin: 0px; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">
<span style="font-size: xx-small;">© DR</span></div>
</td></tr>
</tbody></table>
<br />
É um dos segredos mais bem guardados da educação e uma das maiores preocupações partilhadas entre pais de alunos que entram no 1.º ano de escolaridade: como aprender e ensinar a ler? Na Europa, 19% dos jovens com 15 anos revelam dificuldades na leitura a nível mais básico. Já em Portugal, apesar de menor, este número fixa-se nos 17,2%. Johannes Ziegler, 52 anos, um reconhecido neurocientista francês, acredita que (quase) tudo pode ser solucionado com a ciência. Por isso, dedicou a sua carreira a estudar este tema, sobre o qual já tem dezenas de publicações.<br />
<br />
É membro do Conselho Científico de Educação Nacional de França, diretor do Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS) francês, mas também do Laboratório de Psicologia Cognitiva da Universidade de Aix-Marselha. Atualmente, foca o seu dia-a-dia numa investigação sobre a eficácia do digital como ferramenta de ensino na escola primária. Mas terá tempo para dar um pulo até Portugal. Esta quarta-feira, a partir das 15.00, será orador da <a href="https://www.ffms.pt/conferencias/detalhe/4033/como-aprende-o-cerebro-o-papel-das-ciencias-cognitivas-na-educacao">conferência "Como aprende o cérebro? O papel das ciências cognitivas na educação"</a>, promovida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, no Auditório do Liceu Camões, em Lisboa. O DN esteve à conversa com o investigador. <br />
<br />
<b>Há uma discrepância entre os resultados práticos da educação e o avanço do conhecimento científico, cada vez mais capaz de nos fazer entender os caminhos do cérebro e como chegar ao sucesso escolar. O que explica este cenário?</b><br />
As explicações podem ser várias, na verdade. A primeira é que leva tempo até o conhecimento científico se disseminar. Há sim uma enorme lacuna entre este conhecimento e a prática educacional. Por exemplo, os cientistas conhecem os melhores determinantes para a fluência e compreensão da leitura, mas os professores precisam de saber como é que estes determinantes podem ser ensinados aos seus alunos de forma eficiente. Há um problema de falta de preparação na transferência de conhecimento científico para a prática em sala de aula. Alguns países são muito bons nisto, mas outros não.<br />
<br />
<b>O que é que a experiência lhe tem dito: os professores estão cada vez mais ou menos adaptados ao conhecimento que as ciências cognitivas têm provado sobre o cérebro humano?</b><br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxjazbdhk0ck_FUmXsqtb8W2KAxg4l7SERCVFohJxMxy8p_3Jbug4m6Upvzge-uYOg3LszgXN3kNDVFkAFHxqrHgl1KIAtuI1saYtpDvw5izxUx-etuNuHI-FvKrPaqy0kzHwIrcMIXGy-/s1600/Z1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="322" data-original-width="640" height="201" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxjazbdhk0ck_FUmXsqtb8W2KAxg4l7SERCVFohJxMxy8p_3Jbug4m6Upvzge-uYOg3LszgXN3kNDVFkAFHxqrHgl1KIAtuI1saYtpDvw5izxUx-etuNuHI-FvKrPaqy0kzHwIrcMIXGy-/s400/Z1.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #f7f7f7; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; display: inline; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; line-height: 1.23077; margin: 0px; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">
<span style="font-size: xx-small;">Quando uma criança demonstra dificuldades em aprender a ler,<br />"a melhor estratégia continua a ser a intervenção intensiva da escola".<br />"Não há soluções mágicas", diz o neurocientista</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #f7f7f7; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; display: inline; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; line-height: 1.23077; margin: 0px; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">
<span style="font-size: xx-small;">© DR</span></div>
</td></tr>
</tbody></table>
Não acho que estejam cada vez menos adaptados, porque têm aprendido muito com a neurociência da educação, sobre o processo de aprendizagem, a atenção, a memória, etc. Mas, atualmente, há muito pouca preparação de professores para algumas destas questões. É preciso compreender, por exemplo, que o cérebro está a mudar drasticamente durante a adolescência, que pode ser também o início de muitos distúrbios psiquiátricos, como depressão ou esquizofrenia.<br />
<br />
<b>Não é compreensível que hoje, com as ferramentas cognitivas que temos, não as utilizemos para exercer educação...</b><br />
Definitivamente que não. Estamos num ponto de viragem histórico. Antes, a educação estava exclusivamente nas mãos dos departamentos de formação de professores e ciências da educação. Agora, sabemos que a aprendizagem é complexa e acontece num contexto social complexo. Há muito a aprender com outras disciplinas: psicologia social (comparações sociais, atitudes, estereótipos), metacognição (autoeficácia, aprender a aprender, pensamento positivo), psicologia cognitiva (aprendizagem, memória, atenção, personificação), psicolinguística e linguística (linguagem, compreensão, gramática, leitura, aprendizagem de segunda língua), sociologia e economia (desigualdade, pobreza), neurociência (plasticidade, conectividade, oscilações, ciclos circadianos, recompensa, feedback), ciência da computação (ferramentas educacionais, big data), filosofia (pensamento crítico, raciocínio), matemática (como tornar a matemática concreta e incorporada). Seria um erro enorme voltar atrás nessas fabulosas fontes de conhecimento sobre o cérebro.<br />
<br />
<br />
<b>Dedicou-se a esta ciência toda a vida, mas particularmente ao estudo de como é que as crianças aprendem a ler. Qual o papel da psicologia cognitiva neste campo?</b><br />
Graças à ciência cognitiva da leitura, agora sabemos os ingredientes cognitivos e linguísticos exatos, sabemos como o processo funciona, na medida em que podemos programar um modelo de simulação que aprende como uma criança. Aprender a ler e a ensinar a ler já não é uma questão de opinião, tornou-se uma ciência difícil. Conhecemos o mecanismo do processo, assim como compreendemos como funciona o motor de um carro. Também entendemos muito melhor o que pode correr mal. Podemos simular num computador dificuldades de leitura específicas e possíveis resultados de intervenção. Graças à neurociência, conhecemos agora os substratos neurais destes processos, sabemos onde ocorre a aprendizagem no cérebro, quais as regiões que estão envolvidas, a rede neural, a importância dos fatores genéticos e do ambiente.<br />
<br />
<b>Em Portugal, as aulas já se iniciaram há mais de dois meses. Aprender e ensinar a ler é, nesta altura, uma preocupação de muitos pais com os filhos que entraram no 1.º ano de escolaridade. A partir de quando é legítimo que estejam realmente preocupados com possíveis dificuldades?</b><br />
Os pais e professores devem estar sempre atentos e solidários desde o início. Se uma criança tiver problemas para aprender as letras e a forma como soam, não há necessidade de esperar até que a criança acumule um atraso de leitura que seja suficientemente importante para qualificá-la como disléxica. A criança precisa de treino adicional (que deve ser sistemático e intenso) antes de ficar para trás. E atenção, que isto não significa já que essa criança é disléxica. Significa apenas que precisa de ajuda adicional.<br />
<br />
<b>Então, como é que os pais e professores devem responder na prática?</b><br />
É fundamental que os pais ofereçam oportunidades de leitura, principalmente compartilhada, para estimular o interesse nos livros. Os professores precisam de garantir um bom ensino e um bom apoio. Se o atraso da criança for superior a dois anos (uma criança lê no 3.º ano como uma do 1.º ano), os pais e os professores devem preocupar-se em dar apoio adicional, começando por um diagnóstico formal. E, mesmo com um diagnóstico formal, a melhor estratégia continua a ser a intervenção intensiva da escola. Não há soluções mágicas. <br />
<br />
<b>As tecnologias podem ser um amigo ou inimigo desta aprendizagem? Porque falamos frequentemente sobre a importância de uma escola adaptada aos novos tempos, onde os alunos têm acesso a computadores e até a tablets, mas há estudos que afirmam que a compreensão de textos impressos é superior à compreensão de textos equivalentes no suporte digital.</b><br />
Vou dar um exemplo muito simples: a Ordem da Fénix, da saga de Harry Potter, contém 257 mil palavras. Uma criança que é capaz de ler este livro num fim de semana terá um quarto de milhão de oportunidades de aprendizagem, supervisionada, em que o significado do que é lido à criança é descodificado corretamente. Isto é chamado de "autoensino". Nenhum professor e nenhum tablet podem fazer melhor do que isto.<br />
<br />
<b>Mas algumas crianças não têm esta iniciativa nem são estimuladas para ela...</b><br />
Exato. O problema é que algumas crianças não chegam lá, não entram no ciclo de autoaprendizagem, em que a leitura fortalece a aprendizagem. Para estas crianças que lutam para aprender as letras e os seus sons, o software educacional pode ser benéfico porque um tablet pode adaptar-se ao nível da criança e apresentar letras e sons milhares de vezes num ambiente lúdico. Além disso, crianças com problemas visuais podem beneficiar do espaçamento extra das letras nos e-books.<br />
<br />
<b>Então, o sucesso da educação passa por caminhar lado a lado com a ciência...</b><br />
O sucesso educacional não vem apenas da psicologia cognitiva, mas seria uma loucura não usar esta base do conhecimento assente em evidências. Sabemos muito sobre a atenção, a memória e a aprendizagem das nossas crianças. Os custos da inação seriam tremendos.<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="https://www.dn.pt/vida-e-futuro/a-ordem-da-fenix-de-harry-potter-da-um-quarto-de-milhao-de-oportunidades-para-uma-crianca-aprender--11446986.html">″A Ordem da Fénix de Harry Potter dá um quarto de milhão de oportunidades para uma criança aprender″ - DN</a>PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-47093730510460742162019-07-07T00:36:00.006-07:002019-07-07T01:29:54.942-07:00NÃO É FÁCIL O GENUÍNO PERDÃO.<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5zTdDmN6tuvbi-s7q20a7XNAKidUK-_8KNnDSFbLuSHZn6XnJIX6S27-XeutuDELTGlZvs5Db-z36YLinKlWYNJwJFXd0r_4Ig00nXl1lC6jXFwF0KD3KtiXCtkzWOiF1tezj7IhkNYsA/s1600/eva-masthead-large.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="746" data-original-width="1600" height="186" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5zTdDmN6tuvbi-s7q20a7XNAKidUK-_8KNnDSFbLuSHZn6XnJIX6S27-XeutuDELTGlZvs5Db-z36YLinKlWYNJwJFXd0r_4Ig00nXl1lC6jXFwF0KD3KtiXCtkzWOiF1tezj7IhkNYsA/s400/eva-masthead-large.jpg" width="400" /></a>NÃO É FÁCIL O GENUÍNO PERDÃO.<br />
<br />
<span style="font-size: small;">A vivência pessoal do sentimento do perdão está directamente ligada ao sentimento de pacificação interior, essencialmente, do ódio, da raiva, da decepção, da vergonha, da incredulidade e da injustiça. Pede coragem; e pede sofrimento pessoal - por vezes, muito sofrimento. Temos de desistir de coisas que têm muita força dentro de nós.<br />Que nunca nos falte quem nos acompanhe e dê suporte nesse tão difícil caminho.</span><br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<span style="color: black; display: inline; float: none; font-family: "merriweather" , "georgia" , serif; font-size: 20px; font-weight: 400; letter-spacing: normal; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">“Perdoem os vossos piores inimigos”</span><i><span style="color: black; display: inline; float: none; font-family: "merriweather" , "georgia" , serif; font-size: 20px; font-weight: 400; letter-spacing: normal; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">, diz num vídeo gravado na última visita ao Museu Auschwitz, </span><a href="https://www.theguardian.com/world/2019/jul/06/eva-kor-survivor-of-mengele-dies-during-annual-trip-to-auschwitz" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: transparent; border: 0px none; box-sizing: inherit; color: #015782; font-family: Merriweather, Georgia, serif; font-size: 20px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0px; outline: currentcolor none 0px; padding: 0px; text-align: start; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; vertical-align: baseline; white-space: normal; word-spacing: 0px;" target="_blank">aqui citado pelo “The Guardian”</a><span style="color: black; display: inline; float: none; font-family: "merriweather" , "georgia" , serif; font-size: 20px; font-weight: 400; letter-spacing: normal; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">. </span></i><span style="color: black; display: inline; float: none; font-family: "merriweather" , "georgia" , serif; font-size: 20px; font-weight: 400; letter-spacing: normal; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">“No momento em que perdoei os nazis, senti-me livre de Auschwitz e de toda a tragédia que me aconteceu.” </span><i><span style="color: black; display: inline; float: none; font-family: "merriweather" , "georgia" , serif; font-size: 20px; font-weight: 400; letter-spacing: normal; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">Afinal, para Eva, não é assim tão difícil contrariar os sentimentos fundamentalistas de raça que podem conduzir a um genocídio: </span></i><span style="color: black; display: inline; float: none; font-family: "merriweather" , "georgia" , serif; font-size: 20px; font-weight: 400; letter-spacing: normal; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">“Tratar todos com respeito e justiça. Não são necessárias grandes leis, não é necessário nenhum governo”.<span style="font-size: x-small;"><i>(1)</i></span></span></blockquote>
____________________<br />
(1) Jornal <a href="https://expresso.pt/internacional/2019-07-06-Perdoem-os-vossos-piores-inimigos---Morreu-a-mulher-que-sobreviveu-a-Auschwitz-e-aos-ensaios-macabros-do-anjo-da-morte?fbclid=IwAR2BOM85byLPgwkgG87KsD2DWSEAYRBNEdVkHcYqz7Da1gnIE2dHQY-CMao" target="_blank">Expresso</a>.PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-16667101807118688752019-07-05T02:24:00.002-07:002019-07-05T02:29:38.743-07:00Sobre a empatia...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg266DhXN54dlI7CRdiuM3QEN0WRiIVtW31JLVZoGpAgN975TSz7Qmv10FgnsS2HxF59HYG5s2Cje3JMuFAA8RsMu2t1fqvY0NjPSWcy-ppJ5ockTVn9Xdn3_FWTov9hxCsC_-hfgcpUEHU/s1600/Empatia.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="900" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg266DhXN54dlI7CRdiuM3QEN0WRiIVtW31JLVZoGpAgN975TSz7Qmv10FgnsS2HxF59HYG5s2Cje3JMuFAA8RsMu2t1fqvY0NjPSWcy-ppJ5ockTVn9Xdn3_FWTov9hxCsC_-hfgcpUEHU/s400/Empatia.jpg" width="300" /></a></div>
<blockquote>
<i><span style="font-size: large;">“A empatia é como um músculo: se não for exercitado, atrofia, se for trabalhado, cresce.”</span></i></blockquote>
<br />
Assim falada, a autoria da máxima acerca da empatia é de Jamil Zaki.<br />
<br />
Direi eu que Jacques de La Palice poderia também ser autor da afirmação. Não digo isto para a desconsiderar ou desvalorizar, mas para chamar a atenção para que qualquer um de nós poderia pensá-la, ou senti-la, ou dizê-la.<br />
O problema da empatia é praticá-la e ter vontade de a praticar.<br />
Só que praticar a empatia pede duas coisas:<br />
<ul>
<li><u>tempo</u>, e tempo é o que a generalidade das pessoas diz que tem pouco.</li>
<li><u>atenção dedicada</u>, e as pessoas dizem que têm muitas coisas com que se preocupar e resolver</li>
</ul>
Jamil Zaki, ao contrário de outros que disseram o mesmo que ele disse, conseguiu ser ouvido e divulgado, ainda bem! Vamos aproveitar a onda!<br />
Vamos treinar a empatia? Sim, vamos a isso!<br />
<br />
<br />
<i><span style="font-size: x-small;">Nota: uma entrevista de Jamil Zaki, em inglês, <a href="https://www.washingtonpost.com/lifestyle/2019/06/11/empathy-is-decline-this-country-new-book-describes-what-we-can-do-bring-it-back/?noredirect=on&utm_term=.d00e84e4fc0b" target="_blank">aqui</a>.</span></i>PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-57434173695033681002019-07-03T12:05:00.001-07:002019-07-03T23:21:24.870-07:00A SÁBIA INTUIÇÃO DO VALOR CURADOR DA ESCRITA<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgc9zErYxYhPPiTMu47JsHzz1lm-J6Mvc1mSCM03HOpzw3RW96H0GV2tdgyyUg3XvnENxl0OQeKi8P02RLAUcM9XJETib2k08vNSXqGqBtQ02bZbRZYlp-elgcIIUicR0lx7FrgBkIimJXA/s1600/P1100410+CA+Red+30.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1200" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgc9zErYxYhPPiTMu47JsHzz1lm-J6Mvc1mSCM03HOpzw3RW96H0GV2tdgyyUg3XvnENxl0OQeKi8P02RLAUcM9XJETib2k08vNSXqGqBtQ02bZbRZYlp-elgcIIUicR0lx7FrgBkIimJXA/s320/P1100410+CA+Red+30.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">1.ª edição das "Cartas Portuguesas"<br />
de Mariana Alcoforado</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-size: large;"><i>«Como me és querido e como me és tirano!<br />Não me escreves; não pude coibir-me de te dizer isto, outra vez!<br />Vou recomeçar, e o oficial que se vá embora. Que importa? Que parta, escrevo mais para mim do que para ti. Busco apenas aliviar este coração.»</i></span><br />
Mariana Alcoforado, a acabar a 4.ª e penúltima carta, 1669.PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-75635085594345405922019-06-16T00:33:00.003-07:002019-06-16T00:36:26.120-07:00DE ONDE SURGEM OS AFECTOS?<div style="text-align: center;">
<b>DE ONDE SURGEM OS AFECTOS?</b><br />
<br /></div>
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWAcrCTya5ktt59zROOSYTCezyjPVpxo9raXpAEZIWDy-RPii-R746mnRbj_wiOKUw47Q-meWYiL2v3R-GYnS5Kb1Vun1rrEaD8WkV7Xoix81ETiBpuRJwy_WqxpNdD9U-mRyC5pVbMoH9/s1600/Emo%25C3%25A7%25C3%25B5es.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="719" data-original-width="1280" height="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWAcrCTya5ktt59zROOSYTCezyjPVpxo9raXpAEZIWDy-RPii-R746mnRbj_wiOKUw47Q-meWYiL2v3R-GYnS5Kb1Vun1rrEaD8WkV7Xoix81ETiBpuRJwy_WqxpNdD9U-mRyC5pVbMoH9/s400/Emo%25C3%25A7%25C3%25B5es.jpg" width="400" /></a><span style="font-size: large;">Os afectos surgem da presença ou da ausência dos outros.</span><br />
<span style="font-size: large;">É por isso que os procuramos cada vez mais avidamente nos ecrãs dos telemóveis: para que estejam logo ali a proteger-nos do medo de nos sentirmos sozinhos.</span><br />
<br />PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-64069293260065905032019-04-10T14:24:00.000-07:002019-04-11T01:06:03.954-07:00O mistério eterno de toda a capacidade humana<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLb0JN04JTrORcjVwwI1TjaHa-BxEwJDEz6jH_8VN1-DfSPsjZbINEL22H0xDIe_WUz7Y1z5XcKfDKJieO_tmwogLcWjPxVM2MBPH-VwTaB-xNUS-1rE5edyvUL9VsQ4yoxM-PuPIZbZi_/s1600/auguste-rodin-l.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="657" data-original-width="480" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLb0JN04JTrORcjVwwI1TjaHa-BxEwJDEz6jH_8VN1-DfSPsjZbINEL22H0xDIe_WUz7Y1z5XcKfDKJieO_tmwogLcWjPxVM2MBPH-VwTaB-xNUS-1rE5edyvUL9VsQ4yoxM-PuPIZbZi_/s200/auguste-rodin-l.jpg" width="145" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">August Rodin</td></tr>
</tbody></table>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjV0ec19obPEGX8bY-yJKBJEsBPxJCTmrNDvHoAbhH4CceBXjf_kCTmFBR55Q76UGL_V361ZfonY7t3eNDxVbsvbXpx6hxX_Y6bDINTeqtHoVXogSZCWrQR6Mo1Syx1o0tuNrLIiS-7vCNf/s1600/Stefan_Zweig_1900_cropped.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="308" data-original-width="231" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjV0ec19obPEGX8bY-yJKBJEsBPxJCTmrNDvHoAbhH4CceBXjf_kCTmFBR55Q76UGL_V361ZfonY7t3eNDxVbsvbXpx6hxX_Y6bDINTeqtHoVXogSZCWrQR6Mo1Syx1o0tuNrLIiS-7vCNf/s200/Stefan_Zweig_1900_cropped.jpg" width="150" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Stefan Zweig</td></tr>
</tbody></table>
«[Rodin] aproximou-se da porta. Quando ia fechá-la à chave, descobriu que eu [Stefan Zweig] estava ali e fitou-me quase com ar zangado: quem era aquele jovem desconhecido que entrara à socapa no seu atelier? Mas no momento seguinte recordou-se<i><span style="font-size: xx-small;">(1)</span></i> e veio ter comigo, quase envergonhado. "Pardon, Monsieur", começou ele. Mas não o deixei continuar. Limitei-me a apertar-lhe a mão em sinal de gratidão: teria preferido beijá-la. Nessa hora tinha visto abrir-se diante de mim <i><b>o mistério eterno </b></i>de toda a grande arte e até mesmo<i><b> de toda a capacidade humana: a concentração, a aliança de todas as energias, de todos os sentidos, o abstrair-se de si próprio, a abstracção do mundo que acompanha qualquer artista. Tinha acabado de aprender uma coisa para toda a vida.»</b><span style="font-size: xx-small;">(2)</span></i><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /><br />________________________<br /><br />(1) Na verdade, e segundo o relato autobiográfico de Stefan Zweig, fora o próprio Rodin que convidara Zweig a acompanhá-lo ao atelier. Isto terá acontecido por volta de 1906, antes da 1.ª Grande Guerra; rememorado e posto a escrito na iminência da ocupação de Paris pelas tropas alemãs em 1940.</span><br />
<span style="font-size: x-small;">(2) Stefan Zweig, "O Mundo de Ontem, recordações de um europeu", Assírio & Alvim, 2005, 2017, pp. 181-2. </span>PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-42049963244669560942019-04-06T00:46:00.001-07:002019-04-06T00:48:37.015-07:00A empatia é uma vantagem evolutiva, não convém nada perdê-la<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzyKgCvHdhMeEHknThcY6KdJ7vzmoY3d24G-Grv4_8WpSLDNEBYCyPRO0Zg5KhrVLb14h6zYrKjCjkO3rSTaFShyphenhyphenI7o8sfERZ6P37_1xuU_PlhLDDdLq7mnN6YHFPfGM1coHpcYbgXh8ua/s1600/iStock-1044058650-1200x675_c.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="675" data-original-width="1200" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzyKgCvHdhMeEHknThcY6KdJ7vzmoY3d24G-Grv4_8WpSLDNEBYCyPRO0Zg5KhrVLb14h6zYrKjCjkO3rSTaFShyphenhyphenI7o8sfERZ6P37_1xuU_PlhLDDdLq7mnN6YHFPfGM1coHpcYbgXh8ua/s400/iStock-1044058650-1200x675_c.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="https://life.dn.pt/comportamento/diana-prata-neurociencia-oxitocina-empatia-comportamento-social/">Diana Prata: «A empatia é uma vantagem evolutiva, não convém nada perdê-la»</a><br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>«Se desde crianças não nos habituamos a ver o resultado das nossas ações <br />
no outro, se não desenvolvemos o sistema da empatia, perdemo-lo.»</i></blockquote>
PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-13300572357487856222019-04-02T14:26:00.002-07:002019-04-02T14:28:09.616-07:00O controlo do medo através da antecipação mental repetidaA GESTÃO DAS EMOÇÕES <br /><br /><br /><blockquote class="tr_bq">
<i>«I'm not trying to overcome my fear, I'm just trying to step outside of it.»</i><span style="font-size: xx-small;">(1)</span></blockquote>
<br />Estão a ver porque o treino da gestão das emoções é tão importante? Este homem realizou actos únicos entre todos os seres humanos. E de que fala ele? Do que é mental, do que pede muita atenção, e controlo do medo; treino e antecipação mental repetida.<br />
<div style="max-width: 854px;">
<div style="height: 0; padding-bottom: 56.25%; position: relative;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="480" scrolling="no" src="https://embed.ted.com/talks/alex_honnold_how_i_climbed_a_3_000_foot_vertical_cliff_without_ropes" style="height: 100%; left: 0; position: absolute; top: 0; width: 100%;" width="854"></iframe></div>
</div>
<br />
(Tem legendas em português do Brasil)<br />
<span style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; float: none; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; font-style: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">________________________</span><br />
<span style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; float: none; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; font-style: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><i><span style="font-size: x-small;">(1) Eu não estou a tentar vencer o meu medo, eu só estou a tentar manter-me fora dele. </span></i></span>PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-92142065088990007062017-02-22T14:37:00.000-08:002017-02-22T23:04:29.052-08:00O Instituto da Criança: um sonho, uma acção – uma verdadeira utopia!<h2>
João dos Santos e a Utopia do Instituto da Criança <span style="font-size: x-small; font-weight: normal;"> </span><span style="font-size: large; font-weight: normal;">2</span><span style="font-size: large; font-weight: normal;">/12</span></h2>
<h4>
Capítulo 2: O Instituto da Criança: um sonho, uma acção – uma verdadeira utopia! <span style="font-weight: normal;"><span style="font-size: x-small;">(1)</span></span></h4>
<blockquote class="tr_bq">
<blockquote class="tr_bq">
<span style="font-weight: normal;"><i>«Foi nesse clima, para mim penoso, duma pedagogia pré-fabricada, que surgiu a ideia da criação do Instituto da Criança» <span style="font-size: x-small;">(2)</span></i></span></blockquote>
</blockquote>
<div style="text-align: right;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijJTsNOslK-LXG9BZDepXBSX5EDNP21ERBsFmE_Xu9mpeCSw1zhVbte-6L_h__aZuR2eTm8FMuviYgwxKuty36Y6BzXBNARtHKW7_Ua4cwR60QGgMdnNIS4ShXyn49WNS9gEA0MNrheFJI/s1600/monde_harmonieux_partage-3c099.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="187" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijJTsNOslK-LXG9BZDepXBSX5EDNP21ERBsFmE_Xu9mpeCSw1zhVbte-6L_h__aZuR2eTm8FMuviYgwxKuty36Y6BzXBNARtHKW7_Ua4cwR60QGgMdnNIS4ShXyn49WNS9gEA0MNrheFJI/s400/monde_harmonieux_partage-3c099.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">http://www.agoravox.fr/tribune-libre/article/rages-et-utopies-d-un-enfant-du-154261</span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-size: x-small;">No capítulo anterior, o primeiro deste trabalho, quis deixar clara a ideia do que é uma utopia; e quis, complementarmente, deixar preparada a aceitação de que o projecto do Instituto da Criança que João dos Santos liderou é, com toda a legitimidade, uma utopia.</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Neste capítulo quero, então, mostrar alguma coisa sobre a maneira como a ideia do Instituto da Criança tomou a forma de um projecto... oficialmente recusado; mas socialmente, educativamente e terapeuticamente necessário.</span></div>
<br />
Na Primavera de 1957, o dr. João dos Santos participou intensamente numa iniciativa da Juventude Musical Portuguesa, em colaboração com a Sociedade Nacional de Belas-Artes, em que foram realizadas várias conferências, com diversos profissionais e estudiosos, correspondendo o empreendimento, “a uma necessidade de elucidação de problemas relacionados com a educação pela Arte, a formação estética e com o exame da sua viabilidade no ensino escolar”. <span style="font-size: x-small;">(2)</span><br />
No prefácio do livro que cerca de 10 anos depois trouxe a público os textos das conferências, o Professor Delfim Santos afirma:<br />
<blockquote class="tr_bq">
<blockquote class="tr_bq">
<i>«Uma constante se pode verificar nas exposições dos autores que testemunham neste livro em defesa da remodelação do ensino em Portugal: a formação do professorado, a criação de um Instituto Superior de Pedagogia. O processo está concluído e a certeza reforçada.» <span style="font-size: x-small;">(3) (4)</span></i></blockquote>
</blockquote>
Será que a “certeza reforçada” de que falava o Professor Delfim Santos participou na ideia que em 1974 tomou a forma do projecto de um Instituto da Criança? Pura especulação da minha parte.<br />
<blockquote class="tr_bq">
<blockquote class="tr_bq">
<i>“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.” <span style="font-size: x-small;">(5)</span></i></blockquote>
</blockquote>
É engraçado, querido mestre, tomo consciência de que não tenho claro na minha mente o assunto das convicções religiosas que professava. Quero dizer, tenho ideia de quais seriam, mas não encontro na minha memória encontros entre nós os dois, face a face, em que os seus olhos, os gestos, e a voz espelhassem a proximidade e a distância que tivesse em relação a qualquer credo religioso; e também não me lembro de qualquer crítica, sarcasmo ou expressão de intolerância fosse em relação a que convicção religiosa fosse.<br />
Não sei, sinceramente, o que este deus de Fernando Pessoa – poeta e prosador que o mestre tanto apreciava! – quis ou quer; não tenho dúvidas sobre a intensidade do conhecimento e do afecto com que o senhor sonhava e fazia para que a(s) obra(s) nascesse(m).<br />
Eduardo Galeano, o autor uruguaio, foi um exilado político como João dos Santos também foi. Ambos desejavam o mesmo para os seus países, ambos lutaram contra a opressão dos direitos e das liberdades políticas. Tiveram praticamente o mesmo tempo de vida, ambos nasceram em Setembro, ambos faleceram em Abril; quase trinta anos os separam. Ambos porfiaram, ambos lutaram, ambos sonharam.<br />
Eduardo Galeano também sonhou a utopia. Um dia falou dela assim:<br />
<blockquote class="tr_bq">
<blockquote class="tr_bq">
<i>«Voy a leer unas palabritas que tienen que ver con el derecho de soñar, con el derecho al delirio, a partir de algo que me ocurrió en Cartagena de Indias, hace ya algún tiempo, cuando estaba en la universidad, dando una charla, junto con un gran amigo, un director de cine argentino, Fernando Birri, y entonces los muchachos, los estudiantes hacían preguntas, a veces a mí, a veces a él, y le tocó a él la más difícil de todas.<br />Un estudiante se levantó y preguntó: </i>«¿Para qué sirve la utopía? »<i>, yo lo miré con lástima y digo: </i>«¡Uy!, ¡qué lío, ahora!»<i>, y él contestó estupendamente, de la mejor manera. Dijo que la utopía está en el horizonte, y dijo: </i>«Yo sé muy bien que nunca la alcanzaré, que si yo camino diez pasos, ella se alejará diez pasos. Cuanto... cuanto más la busque menos la encontraré, porque ella se va alejando a medida que yo me acerco»<i>. Buena pregunta, ¿no?, ¿para qué sirve? Pues la utopía sirve para eso: para caminar.» </i><span style="font-size: x-small; font-style: italic;">(6)</span></blockquote>
</blockquote>
O Instituto da Criança é o desenho de um projecto colectivo liderado pelo dr. João dos Santos, aproveitando a oportunidade que as circunstâncias dos tempos que se viviam proporcionava. Corria o ano de 1974, vivia-se o sabor inebriante da Revolução do 25 de Abril:<br />
<blockquote class="tr_bq">
<blockquote class="tr_bq">
<i>«Foi uma luta árdua, a de nos convencermos uns aos outros, de que o Instituto era importante e, sobretudo, de convencermos alguns de que não devia ser um organismo centralizador de serviços já existentes, mas uma instituição de defesa dos Direitos da Criança, de captação do sentir da população e de diálogo com os Serviços públicos e Associações privadas. A primeira nota enviada ao ministro </i>[dos Assuntos Sociais]<i> foi devolvida com um despacho de desaprovação. Alice Gentil Martins disse, então, as palavras adequadas à estimulação provocatória do grupo e do ministro: "Se o Instituto da Criança é uma utopia, estamos no bom caminho."» <span style="font-size: x-small;">(7)</span></i></blockquote>
</blockquote>
Dez anos depois do projecto do Instituto da Criança (e dois anos depois da publicação do livro sobre a Utopia do Instituto da Criança), a minha colega Maria Guiomar Lima - fomos alunos do dr. João dos Santos na mesma altura -, jornalista de profissão, entrevistou-o e a certa altura põe-lhe as seguintes perguntas:<br />
<blockquote class="tr_bq">
<blockquote class="tr_bq">
- <u>O Instituto da Criança corresponde àquilo que pretendia no livro que escreveu?</u><br />
- <i>Ah, certamente que não! Eu fiz aquele livrinho, </i>A Caminho da Utopia<i>, que envolve decénios do meu amadurecimento. Não podia ser rapidamente captado pelas pessoas que se interessaram pelo Instituto. Os companheiros que comigo o fundaram empurraram-me e gostei. Mas agora estou numa fase em que me interessa mais passar a escrito as coisas que fiz e disse do que continuar a fazer obras.</i><br />
- <u>É por isso que o Instituto não lhe agrada?</u> <span style="font-size: x-small;">(8)</span><br />
- <i>Eu não disse que não me agrade. Está a fazer coisas interessantes, mas não está dentro daquilo que eu tinha imaginado. Eu próprio lhe chamei utopia, mas espero que, com tempo, hão-de chegar a qualquer coisa equivalente ou paralelo àquilo que eu expus. Um dia, as pessoas hão-de perceber! E fazer aquilo ou outra coisa, desde que façam sentir à sociedade que perdeu a instituição familiar como centro de educação. Na sociedade de hoje - não só em Portugal, em todo o mundo - entrega-se a educação ao Estado. Contudo, o mais importante é o que está antes da escola, ou fora dela. Só quando a escola for tudo, o que está dentro e fora do edifício escolar, é que estarão salvaguardados os interesses da criança e dos familiares. <span style="font-size: x-small;">(9)</span></i></blockquote>
</blockquote>
Aqui está, é exactamente como Fernando Birri disse na resposta à pergunta sobre a utopia: pôde o dr. João dos Santos dar mais dez passos em frente; e a utopia afastou-se também mais dez passos.<br />
<br />
<br />
Próximo capítulo: <b>O Instituto da Criança: ideias fortes</b><br />
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<span style="font-size: x-small; font-weight: normal;"><br /></span></div>
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<span style="font-size: x-small; font-weight: normal;"><br /></span></div>
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<span style="font-weight: normal;">________________________<br /><span style="font-size: x-small;">(1) </span></span><span style="font-size: x-small;">João dos Santos, “A Caminho de uma Utopia… Um Instituto da Criança”, Lisboa, Livros Horizonte, 1982, p. 32.</span></div>
<div>
<span style="font-size: x-small;">(2) João dos Santos e outros, “Educação Estética e Ensino Escolar, Lisboa, Publicações Europa-América”, 1966, p. 7.</span></div>
<div>
<span style="font-size: x-small;">(3) João dos Santos e outros, “Educação Estética e Ensino Escolar, Lisboa, Publicações Europa-América”, 1966, p. 12.</span><br />
<span style="font-size: x-small;">(4) João dos Santos é autor, neste livro, de um extenso capítulo (Fundamentos Psicológicos da Educação pela Arte), composto por uma introdução e os seguintes subcapítulos: Evolução Psicológica da Criança, O Falar não é a Única Forma de Linguagem, Linguagem Falada e Linguagem Escrita, Importância da Psicologia Genética na Educação, Desenho e Pintura Livres; e uma Conclusão. </span></div>
<div>
<span style="font-size: x-small;">(5) <i> </i></span><span style="font-size: x-small;"><i>I. O INFANTE</i></span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Deus quis que a terra fosse toda uma,</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Que o mar unisse, já não separasse.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">E a orla branca foi de ilha em continente,</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Clareou, correndo, até ao fim do mundo,</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">E viu-se a terra inteira, de repente,</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Surgir, redonda, do azul profundo.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Quem te sagrou criou-te português.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Do mar e nós em ti nos deu sinal.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Senhor, falta cumprir-se Portugal! <i>(s.d.)</i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;"><i>Mensagem. Fernando Pessoa. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934 (Lisboa: Ática, 10ª ed. 1972). - 57. (http://arquivopessoa.net/textos/2375)</i></span></div>
</div>
<div>
<span style="font-size: x-small;">(5) <a href="https://www.youtube.com/watch?v=m-pgHlB8QdQ">https://www.youtube.com/watch?v=m-pgHlB8QdQ</a>, consultado em 22 de Outubro de 2016. </span></div>
<div>
<span style="font-size: x-small;">(6) "L'Atlas des Utopies", Édition 2017, Groupe La Vie - Le Monde, Paris, p. 20.</span></div>
<div>
<span style="font-size: x-small;">(7) </span><span style="font-size: x-small;">João dos Santos, “A Caminho de uma Utopia… Um Instituto da Criança”, Lisboa, Livros Horizonte, 1982, pp. 32-33.</span></div>
<div>
<span style="font-size: x-small;">(8) Trata-se do <a href="http://www.iacrianca.pt/index.php/organizacao/historico" target="_blank">Instituto da Criança</a>, criado oficialmente em 1983.</span><br />
<span style="font-size: x-small;">(9) João dos Santos, "Retrato de um mestre utópico e irónico", in Diário de Notícias, Lisboa, 4 de Novembro de 1984.</span><br />
<span style="font-size: x-small;">(10) Construo uma outra analogia entre João dos Santos e Rafael Hitlodeu, sustentada no que recordo das conversas que João dos Santos tinha com os seus alunos, ou outras audiências mais alargadas. Costumava ele dizer que, na idade a que chegara, já não trabalhava, já só fazia o que queria, já só fazia coisas interessantes. Também Rafael Hitlodeu, quando Thomas Morus põe Pedro Gilles a insistir com Rafael para que ponha o seu saber ao serviço dos príncipes, que certamente melhorará a sua própria condição pessoal, Rafael responde que isso o levaria a um estilo de vida que repugnaria a sua natureza, e que naquela altura já vivia como queria, o que certamente seria privilégio de pouca gente.</span></div>
<div>
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
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PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-65988638870419380962017-02-15T09:53:00.001-08:002017-02-22T12:50:23.249-08:00João dos Santos e a Utopia do Instituto da Criança - 1/12 <h2>
João dos Santos e a Utopia do Instituto da Criança <span style="font-size: x-small; font-weight: normal;">(1) </span><span style="font-size: large; font-weight: normal;">1/12</span></h2>
<h4>
Capítulo 1: As Fronteiras da Ilha da Utopia</h4>
<blockquote class="tr_bq">
<span style="font-weight: normal;"><i>«Tel le discours des enfants, l'utopie est une conviction, la nuance vient avec l'âge.» <span style="font-size: x-small;">(2)</span></i></span></blockquote>
Assim escreve Boris Cyrulnik, à beira dos 80 anos de idade. Cyrulnik é neuropsiquiatra e <i>Directeur d’Enseignement <span style="font-size: x-small;">(3)</span></i> na Universidade de Toulon. A afirmação é retirada do texto que é a sua contribuição para "L'Atlas des Utopies", edição de 2017, uma publicação conjunta, fora de colecção, das editoras La Vie e Le Monde.<br />
Creio que o eminente estudioso da Psicologia Humana não deixará de ter pensado até que ponto o <b>desejo</b>, para além (ou aquém) da <b>convicção</b>, tem relevância para a construção da utopia. O desejo será da ordem do querer, a convicção da do crer - será isso, então: na concepção deste autor, não basta querer para entrar no reino da Utopia; será preciso também crer.<br />
No dicionário etimológico <span style="font-size: x-small;">(4)</span> que é a minha referência básica, José Pedro Machado, escreve:<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzYQhCcGpeEKmYIzZ8Sj_pw9KXemP1LhpIVXH7IG6HEzpHfxpA_zmeGKAzhwdqlc1MehgRGT6ZWtQrclQDM4mr9xsmXPbhZ7HkMYRll1W89peo5oxlHNeaV8M-z5fkrbB7QDVPmUo8z6gR/s1600/b_800_600_0_00_images_site_Utopia.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzYQhCcGpeEKmYIzZ8Sj_pw9KXemP1LhpIVXH7IG6HEzpHfxpA_zmeGKAzhwdqlc1MehgRGT6ZWtQrclQDM4mr9xsmXPbhZ7HkMYRll1W89peo5oxlHNeaV8M-z5fkrbB7QDVPmUo8z6gR/s400/b_800_600_0_00_images_site_Utopia.jpg" width="295" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Figuração da ilha Utopia na obra "Utopia" do humanista<br />
inglês Thomas More, publicada em 1516</td></tr>
</tbody></table>
<blockquote class="tr_bq">
<i><b>Utopia</b>, s. Do lat. humanístico </i>Utopia<i>, nome de país imaginário, palavra criada pelo humanista ingl. Tomás Morus (1480-1535, canonizado em 1935) com os elementos gregos </i>ou<i>, «não», e </i>tópos<i>, «lugar» (vj. </i>top<i>(</i>o<i>)-), isto é, «lugar (que) não (existe)», dada como título a uma das suas obras (em 1516. Séc. XVII, segundo </i>Morais<span style="font-size: xx-small; font-style: italic;">8</span><i>. </i><span style="font-size: x-small;">(4)</span></blockquote>
Do ponto de vista conceptual, e sem querer ser exaustivo - afinal, este trabalho não é uma tese, nem ensaia senão discorrer sobre um tema que era muito caro a João dos Santos; e que eu penso conservar toda a importância, vontade e empenho de levar em frente -, pelo que convirá, na minha opinião, fazer uma delimitação, mesmo que grosseira, do conceito de utopia em relação a conceitos que lhe estão próximos, são eles os seguintes: sonho, mito, fantasia, quimera; e delírio.<br />
<br />
<ul>
<li>O <b>sonho</b> tem a ver, antes de tudo o mais, com o universo pessoal, da esfera privada; a utopia leva-nos para o universo das relações sociais, da alteridade.</li>
<li>O <b>mito</b> remete-nos para o passado, para as origens; a utopia projecta-nos no futuro.</li>
<li>A <b>fantasia</b> liberta-se da natureza real das coisas, dos factos e dos processos; a utopia desafia a realidade para que seja diferente, à partida, mais perfeita e mais justa.</li>
<li>A <b>quimera</b>, parente da fantasia, é o negativo da utopia - logo à partida, descrê-se da quimera mas a utopia, porque não acreditar nela?</li>
<li>O <b>delírio</b> é a doença que tolda o pensamento visionário do entusiástico autor da utopia e a fragiliza.</li>
</ul>
<br />
Quando em 28 de Agosto de 1963, no Lincoln Memorial, em Washington D.C., Martin Luther King, Jr. fez o tão célebre discurso <i>"I Have a Dream"</i>, estava ele, em rigor, a falar de um sonho ou de uma utopia? Na verdade, ele não disse "I have an utopia" - e dizer "I have a dream" soa muito mais bonito e aliciante do que dizer "I have an utopia", cativa muito mais facilmente a adesão das outras pessoas. É, no reino da significação das palavras usadas na linguagem corrente, não prisioneiras do rigor dos vocabulários das academias formais do Saber, usam-se assim os nomes, os verbos, os adjectivos e os advérbios: mesclando-se, misturando-se, interpenetrando-se em fronteiras difusas - e esse reino tem toda a legitimidade conceptual, semântica, afectiva e expressiva - numa palavra, comunicativa.<br />
Finalmente, nesta breve introdução, uma palavra sobre a <b>Utopia</b> e as <b>utopias</b>.<br />
A <u>Utopia</u> é, portanto, a ilha ideal de Tomás Morus, é um <i>lugar</i> numa geografia imaginada. Michèle Riot-Sarcey, professora emérita de História Contemporânea na Universidade Paris-8, na mesma colectânea de textos de Boris Cyrulnik, que referi antes, diz que a utopia de Tomás Morus nasceu de um estratagema a que ele, que sabia jogar com os termos gregos, lançou mãos para contornar a censura da sua época. Como diz a autora, <i>«En effet, l'île Utopia est le miroir inversé de l'Angleterre d'Henri VIII.» </i><span style="font-size: x-small;">(5, 6) </span><br />
Por seu lado, as <u>utopias</u> serão <i>ideias,</i> tão velhas quanto as aspirações e os sonhos dos homens. Na visão tradicional dos europeus ocidentais estarão, entre as primeiras e mais clássicas, as utopias reformadoras da <i>República</i> de Platão e da <i>Cidade de Deus</i> de Santo Agostinho.<br />
Ah! Falta um pormenor: Tristan Garcia, apresentado como filósofo romancista na colectânea de Cyrulnik e Riot-Sarcey, diz que <i>«Il ne suffit pas de concevoir un autre monde possible, encore faut-il le localizer.» </i><span style="font-size: x-small;">(7, 8) </span><span style="font-size: xx-small;"> </span>Em rigor, a ideia de Garcia opõe-se à interpretação estrita da raiz etimológica da Utopia, o nome da ilha de Thomas More: para ele, Garcia, mais do que um não-lugar <i>[nenhures]</i>, a Utopia é um lugar que o ouvinte de Rafael (personagem central da Utopia) não consegue, por interferência alheia (providencial?) perceber o nome que a localiza, seja em que mapa seja. <span style="font-size: x-small;">(9) </span><br />
O pormenor de Garcia não é, no caso da utopia de João dos Santos, de somenos importância; nem a afirmação de Cyrulnik que abre este capítulo: é que a utopia do Instituto da Criança de João dos Santos tem um lugar; e tem a força das convicções que brotam dos desejos infantis - estes, sempre vivos na mente, no sentir e na acção do meu querido Mestre. João dos Santos é Rafael, ou Rafael é João dos Santos? Que a imaginação de cada um traga a satisfatória resposta. <span style="font-size: x-small;">(10)</span><br />
<br />
Próximo capítulo: <b>O Instituto da Criança: um sonho, uma acção – uma verdadeira utopia!</b><br />
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<span style="font-size: x-small; font-weight: normal;"><br /></span></div>
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<span style="font-size: x-small; font-weight: normal;"><br /></span></div>
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<span style="font-weight: normal;">________________________<br /><span style="font-size: x-small;">(1) Este trabalho tem como base um outro que apresentei, em Dezembro de 2016, no </span></span><span style="font-size: x-small;">Curso de Extensão de Introdução ao Pensamento Santiano: Estudos sobre a Pedagogia Terapêutica, do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira, Linha de História da Educação Comparada, da </span><span style="font-size: x-small;">Universidade Federal do Ceará, no Brasil. Esse trabalho tinha como título <b><i>"</i></b></span><span style="font-size: x-small;"><b><i>A utopia do Instituto da Criança, </i></b></span><span style="font-size: x-small;"><b><i>em que ponto do caminho estamos?"</i></b>. O presente trabalho é, no fundo, o desenvolvimento desse primeiro trabalho que pode, assim, no meu entender, ser considerado um percursor, um trabalho preliminar, sem a ambição que o presente contém - até pelos objectivos que esse outro trabalho visava.</span></div>
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<span style="font-size: x-small;">(2) «Tal como o discurso da criança, a utopia é uma convicção, a matização vem com a idade». (tradução livre)</span></div>
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<span style="font-size: x-small;">(3) Director de ensino (tradução livre).</span></div>
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<span style="font-size: x-small;">(4) José Pedro Machado, "Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 1977, Livros Horizonte, Lisboa, 3.ª edição, p. 368.</span></div>
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<span style="font-size: x-small;">(5) «Com efeito, a ilha Utopia é o espelho invertido da Inglaterra de Henrique VII.» (tradução livre)</span></div>
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<span style="font-size: x-small;">(6) "L'Atlas des Utopies", Édition 2017, Groupe La Vie - Le Monde, Paris, p. 20.</span></div>
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<span style="font-size: x-small;">(7) «Não basta conceber um outro mundo possível, é preciso localizá-lo.» (tradução livre)</span></div>
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<span style="font-size: x-small;">(8) Ibidem, p. 12.</span><br />
<span style="font-size: x-small;">(9) Especialmente delicioso para nós, portugueses, é o pormenor (será que na altura em que foi escrita a Utopia, era mesmo um pormenor?) de ser português o Rafael, aventureiro sábio, que «navegou, não como o marinheiro Palinuro, mas como Ulisses ou, melhor, como Platão» [...] que «se dedicou totalmente à filosofia» [...] e « e estava tão desejoso de ver o mundo, que dividiu o património pelos irmãos (ele é português de nascimento) seguiu sua sorte com Américo Vespúcio». (Thomas More, Utopia, 2010, Rés-Editora, Oeiras, p. 13) Ora bem, será que na cabeça de um português a diferença entre o etimológico <i>nenhures</i> e um lugar que <i>não se sabe onde é</i> (ou que se esconde) é significativa e inibidora da activa exploração, ou procura curiosa?</span><br />
<span style="font-size: x-small;">(10) Construo uma outra analogia entre João dos Santos e Rafael Hitlodeu, sustentada no que recordo das conversas que João dos Santos tinha com os seus alunos, ou outras audiências mais alargadas. Costumava ele dizer que, na idade a que chegara, já não trabalhava, já só fazia o que queria, já só fazia coisas interessantes. Também Rafael Hitlodeu, quando Thomas Morus põe Pedro Gilles a insistir com Rafael para que ponha o seu saber ao serviço dos príncipes, que certamente melhorará a sua própria condição pessoal, Rafael responde que isso o levaria a um estilo de vida que repugnaria a sua natureza, e que naquela altura já vivia como queria, o que certamente seria privilégio de pouca gente.</span></div>
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PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-26082918261483312912017-02-14T13:50:00.001-08:002017-02-14T14:18:48.736-08:00JOÃO DOS SANTOS - O DIA DOS NAMORADOS E OS PAIS<i>«Dic que temos q ' andar culas modas...»</i>, escreve no Facebook o meu caro amigo Alfredo Cameirão, <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8qp4uRa3aoWm-_VN3AB0POwwLlDymsJDKtQZolsbIQGO5Kd5oLB0epPFqRF7qt90pc-Jn2mslmOXjXPH0GOmARSR3IzT5_WKBPCmo4uGixW3qe5UXwyNjkIl2fkS4ofjqOmCULNMdQF2W/s1600/rpgoogle-linkedin.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="351" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8qp4uRa3aoWm-_VN3AB0POwwLlDymsJDKtQZolsbIQGO5Kd5oLB0epPFqRF7qt90pc-Jn2mslmOXjXPH0GOmARSR3IzT5_WKBPCmo4uGixW3qe5UXwyNjkIl2fkS4ofjqOmCULNMdQF2W/s400/rpgoogle-linkedin.jpg" width="400" /></a></div>
na língua que lhe é natural - tanto que João dos Santos gostava de conversar sobre o valor relacional da língua e da linguagem, a pré-verbal e a verbal!...<br />
O Dia dos Namorados é uma dessas celebrações que, depois de tempos mais ou menos discretos, se tem imposto como moda especialmente agressiva e exigente. Com verdades e fantasias; ilusões e desenganos, que lhes são cada vez mais característicos.<br />
Como escreve a minha querida Verónica, também no Facebook, e também hoje, <i>«Nos tempos em que trabalhei numa perfumaria, este era o dia em que muito se vendia. E alguns me pediam 2 e 3 perfumes iguais para que as namoradas não notassem o perfume umas das outras...»</i><br />
Para além da espuma, para além das modas de que fala o mirandês do arguto Alfredo, há que haver serenidade bastante para olhar o que a realidade mostra: os números de casos de violência no namoro, e em idades cada vez mais precoces - as estatísticas registam já as ocorrências a partir dos 13 anos de idade... -, continuam a aumentar.<br />
Por uma curiosa e feliz coincidência, de que falei há poucochinho noutro lado (<a href="http://fernandonaescola.blogspot.pt/2017/02/pensar-paixao-o-amar-e-o-namorar-com.html">Pensar a paixão, o amar e o namorar com a ajuda de Eça de Queiroz</a>), pude ler, precisamente hoje, um extraordinário texto de João dos Santos sobre o casamento; texto esse que ele escreveu para "O Tempo e o Modo", em resposta a um inquérito composto por três perguntas <span style="font-size: x-small;"><i>(1)</i></span> feitas ao psicanalista, numa edição especial da revista, sobre o casamento. Em Março de 1968.<br />
Todo o texto é de uma permanente riqueza, e arranjarei maneira de o partilhar integralmente, assim que a oportunidade surja; e levá-lo-ei para a escola, aos alunos e aos professores; o meu intento, agora, é trazer imediatamente alguma coisa aos pais. É que a reflexão do autor, não obstante os 50 anos que passaram, conserva todo o valor.<br />
A citação é um pouco longa, no excerto que quero aqui reproduzir consegui tirar apenas umas poucas linhas; se mais tirasse, muito provavelmente a concepção de João dos Santos apareceria truncada, penso eu.<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>«O ser humano precisa, para ser gerado, duma célula masculina e doutra feminina, como precisa para ser educado de afecto feminino e de afecto masculino </i><span style="font-size: x-small;">(2)</span><i> recebido e retribuído em relações simples, quer dizer binárias (mãe-filho) ou triangulares (mãe-filho-pai ou </i>autoridade<i> do clã ou grupo). O preconceito escolar que fez da educação uma técnica pedagógica, levou-nos a esquecer que a criança aprende com a mãe, antes dos três anos, tudo o que há de essencial ao homem: a dominar-se, andar, manipular, falar, etc. </i><u style="font-style: italic;">O desconhecimento de que o que não se aprende instintivamente com a mãe, não é susceptível de ser aprendido didacticamente, leva muitos jovens a considerar de ânimo leve as suas relações amorosas, o seu casamento, o seu divórcio e o destino dos seus filhos.</u><u style="font-style: italic;"> <span style="font-size: x-small;">(3)</span></u><i> [...] A chamada Revolução Sexual Americana parece-nos não poder separar-se do progresso económico-social de certas comunidades urbanas e, em particular, da concepção do Homem-consumidor. Cada cidadão tende a ser actualmente um consumidor de produtos e tudo está organizado para que ele tenha tudo à sua disposição para uma vida confortável </i><span style="font-size: x-small;">(4)</span><i>. Cada indivíduo vive para ter conforto e trabalha para o pagar. Inquéritos recentes feitos nos Estados Unidos mostram que a mulher se tornou sexualmente mais activa e exigente e que o homem obcecado pelo seu trabalho se mostra menos interessado e menos capaz na vida íntima do casal. A superficialidade e a versatilidade das relações extra-conjugais podem ser a reacção a este estado de coisas.» </i><span style="font-size: x-small;">(João dos Santos, "O Tempo e o Modo", </span><span style="font-size: x-small;">Extra-colecção, - 2.º Caderno, «O Casamento», Março de 1968, pp. 228-9)</span></blockquote>
Que tem, então, na minha opinião, este pensamento de João dos Santos a ver com o Dia dos Namorados?<br />
Tem a ver com várias questões, a mais pertinente das quais será esta: como estão os adultos, os pais, a educar os filhos para as relações de namoro? As paixões e os namoros são inerentes à condição afectiva e relacional fundamental do ser humano; envolvem instintos, impulsos e sentimentos que reclamam expansão, mas também domínio e controlo do exacerbamento pessoal ou induzido (por exemplo, por influência dos pares ou da agressiva pressão comercial).<br />
Que condições dão as organizações sociais modernas às mães para que possam realizar satisfatoriamente o seu tão fundamental papel de educadora dos instintos infantis? Que valor é hoje reconhecido aos afectos masculinos na estruturação do temperamento e da personalidade da criança?<br />
E deixamos em branco o assunto do <i>«Urbanismo anárquico que torna frouxas as relações afectivas entre os homens»</i> <span style="font-size: x-small;">(p. 229)</span>, entendendo-se aqui homens no sentido geral, abrangendo ambos os sexos.<br />
<br />
<br />
________________________<br />
<span style="font-size: x-small;">(1) Pergunta: Recentemente, a revista <i>Observer</i> dedicou um número ao casamento, com o título <i>Seremos nós a última geração que se casa? </i>a) Para além do slogan sensacionalista, que lhe diz a sua experiência de psicanalista sobre a tão falada "crise do casamento"? b) Parece-lhe poder-se dizer que essa crise, nas suas novas proporções, atinge já o nosso país? Em caso afirmativo, quais as suas causas e consequências? c) Parece-lhe legítimo dizer-se que só ao nível institucional as pessoas encontram a segurança afectiva de que necessitam? Pensa que há pessoas que sempre precisarão do casamento?</span><br />
<span style="font-size: x-small;">(2) Seria interessante ouvir João dos Santos sobre as modernas composições familiares que, legalmente, conferem legitimidade a duas mães ou dois pais. Tenho ideia de que João dos Santos não as recusaria, mas certamente daria contributo muito valioso para o pensamento e as atitudes de todos, começando, é claro, pelos próprios pares parentais; e chegando a quem contra eles tantos preconceitos e oposição manifestam. </span><br />
<span style="font-size: x-small;">(3) O sublinhado é da minha responsabilidade.</span><br />
<span style="font-size: x-small;">(4) Parece-nos esta perspectiva de João dos Santos acerca do conforto muito próxima da que Daniel Lieberman assume, 45 anos depois, na magnífica obra "The Story of Human Body", em que distingue, de forma bem avisada, conforto de bem-estar: <i>«Faz parte da natureza humana deixar que o instinto que procura o conforto se sobreponha à lógica </i>[do bem-estar reclamado pela condição humana natural]<i> (vou de elevador só desta vez), e muitas vezes não reconhecemos que certos confortos diários normais são prejudiciais quando levados ao extremo. O conforto também é rentável. Passamos o dia a ver e a ouvir anúncios de produtos que apelam ao nosso desejo aparentemente insaciável de mais conforto.»</i> (edição portuguesa, 2015, p. 419)</span>PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-78237399406970016192015-08-16T12:05:00.002-07:002015-08-16T12:05:49.570-07:00Reflectir, acreditar, decidir - com Jeam Monnet<h2>
Da convicção à decisão, através do pensamento.</h2>
<h3>
uma lição de Psicologia de Jean Monnet</h3>
É tão claro o que Jean Monnet diz nas suas Memórias, a abrir o capítulo 12, precisamente titulado "<u>Uma acção profunda, real, imediata...</u>", que me abstenho de acrescentar seja o que seja. Apenas destacarei, a negrito ou sublinhado, o que considero serem os conceitos-chave desta notável síntese introspectiva.<br />
<blockquote class="tr_bq">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPxQe83gC1Iza8ekaAGQs489sPRNE8A5QCYDUR9lOoBtsAXSYfK-4go8LSEw0Wyo8AnVcbIO8cTPCZHwVKsKKdfTpEAMuz6lrESuLbdfdGZoJhyphenhyphenLHLtYscYY3XZkqttEISLipAatvzSOTI/s1600/Jean+Monnet.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPxQe83gC1Iza8ekaAGQs489sPRNE8A5QCYDUR9lOoBtsAXSYfK-4go8LSEw0Wyo8AnVcbIO8cTPCZHwVKsKKdfTpEAMuz6lrESuLbdfdGZoJhyphenhyphenLHLtYscYY3XZkqttEISLipAatvzSOTI/s320/Jean+Monnet.jpg" width="320" /></a><em>«Não seria capaz de dizer de onde vem a <strong>convicção</strong> que, nas circunstâncias importantes da minha vida, <strong>trava</strong> bruscamente a minha <strong>reflexão</strong> contínua para a transformar em <strong>decisão</strong>. É aquilo a que há quem chame o sentido da oportunidade. Não me interrogo, porém sobre a necessidade de fazer isto ou aquilo - <u>é a necessidade que me leva a</u> fazer algo que deixa de ser uma opção <u>a partir do momento em que</u> o vejo com clareza. Para o ver com clareza, <u>preciso de me concentrar</u> - o que só consigo com isolamento, durante longas caminhadas. Desde que saí de Cognac <span style="font-size: xx-small;">(1)</span></em><span style="font-size: small;"><em>, organizei a minha vida de maneira a acordar no campo, a uma boa distância da cidade onde trabalho. Levanto-me cedo e percorro quilómetros sozinho. Quando saio de casa, <u>levo comigo todos os pensamentos e todas as preocupações da véspera</u>. Depois de caminhar meia hora ou uma hora, começam a desaparecer, e, a pouco e pouco, <u>descubro as coisas que me rodeiam</u>, reparo nas flores ou nas folhas das árvores. Nesse instante, sei que nada pode perturbar-me. <u>Deixo que as minhas ideias</u> se coloquem, por si mesmas, no seu devido lugar. <u>Não me forço a</u> reflectir num determinado assunto - os assuntos surgem-me naturalmente, porque persigo sempre o mesmo pensamento, ou melhor, só persigo um de cada vez. André Horré, que, com a sua mulher, Amélie, se ocupou da nossa casa - melhor dizendo, das nossas sucessivas casas, em Inglaterra, nos Estados Unidos, em França, no Luxemburgo - durante perto de 30 anos, compreendeu-me bem. </em>"É simples, o senhor Monnet põe a sua ideia à frente, fala com ela e tira conclusões."<em>»</em></span> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<span style="font-size: x-small;">«Je ne saurais dire à quoi tient cette conviction qui dans les circonstances importantes de ma vie arrête brusquement ma réflexion continue pour la transformer en décision. C'est ce que d'autres appellent le sens du moment. Mais je ne m'interroge pas sur la nécessité de faire ceci ou cela – c'est la nécessité qui me conduit à faire quelque chose qui n'est plus un choix dès l'instant où je le vois clairement. Pour le voir clairement, je dois me concentrer – ce que je ne peux obtenir que dans l'isolement, au cours de longues marches. Depuis que j'ai quitté Cognac, j'ai disposé ma vie de manière à me réveiller dans la nature, à bonne distance de la ville où je travaille. Je me lève tôt et je parcours des kilomètres en solitaire. Quand je quitte la maison, j'emporte avec moi toutes les pensées, les préoccupations de la veille. Mais quand j'ai marché pendant une demi-heure ou moment-là, je sais que rien ne peut me déranger. Je laisse mes idées se situer d'elles-mêmes à leur propre niveau. Je ne me force pas à réfléchir à un sujet donné – les sujets me viennent naturellement parce que je poursuis toujours la même pensée, ou plutôt je n'en poursuis qu'une à la fois. André Horré, qui s'est occupé avec sa femme Amélie de notre maison – je devrais dire de nos maisons successives, en Angleterre, aux États-Unis, en France, à Luxembourg – pendant près de trente ans, m'avait bien compris. « C'est simple, Monsieur met son idée devant lui, il lui parle et il conclut. »</span></blockquote>
<br />
<br />
<span style="font-size: x-small;">(1) A terra de Jean Monnet, em França.</span>PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-19643293052261688582015-08-02T03:37:00.000-07:002015-08-02T04:20:20.741-07:00Falar do amor... É fácil ou são os adultos que complicam?<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3kxoYMjJqCt-OeN9IpEDLQQeOvrzMUyOjLpoW6ulYBneQSKeym7IaMjlu9Znod2DEtwMZ8RsEBL_BoQyuJeKpEOV_rioTjqQIDnLMCsytDu6JsWBPp0i1b9ECKZ6KGZH-Ucui2FCHE_cj/s1600/Dharma_Talk.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="277" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3kxoYMjJqCt-OeN9IpEDLQQeOvrzMUyOjLpoW6ulYBneQSKeym7IaMjlu9Znod2DEtwMZ8RsEBL_BoQyuJeKpEOV_rioTjqQIDnLMCsytDu6JsWBPp0i1b9ECKZ6KGZH-Ucui2FCHE_cj/s400/Dharma_Talk.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Exemplo de uma Dharma talk, por Zoketsu Norman Fischer</td></tr>
</tbody></table>
Um dia, ao final da tarde, a seguir a um sermão Dharma <span style="font-size: x-small;">(1)</span>, no Centro Zen de Cambridge, um estudante chegou-se a Seung Sahn Soen-sa e perguntou-lhe: <i>O que é o amor?</i><br />
Soen-sa disse-lhe: <i>Pergunto-te eu: o que é o amor?</i><br />
O estudante ficou calado.<br />
Então, Soen-sa disse-lhe: <i>Isto é o amor.</i><br />
O estudante que interpelou Soen-sa continuou calado.<br />
Soen-sa disse-lhe então: <i>Tu perguntas-me. Eu pergunto-te. Isto é o amor.</i><br />
<i><br /></i>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">One evening, after a Dharma talk at the Cambridge Zen</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Center, a student asked Seung Sahn Soen-sa, "What is</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">love?"</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Soen-sa said, "I ask you: what is love?"</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">The student was silent.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Soen-sa said, "This is love."</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">The student was still silent.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Soen-sa said, "You ask me: I ask you. This is love." </span><br />
<i><span style="font-size: xx-small;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">(in Dropping Ashes on the Buddha: The Teachings of Zen Master Seung Sahn, </span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">by Zen Master Seung Sahn (Author), Stephen Mitchell (Compiler), 1976)</span></span></i><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-size: x-small;">(1) 'Dharma talk é uma espécie de sermão, de discurso público sobre b</span><span style="font-size: x-small;">udismo, dado por um professor budista.</span>PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-35373369603635174582015-07-03T08:53:00.000-07:002015-07-03T08:53:37.583-07:00Sigmund Freud, sempre e sempre escrutinado<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRfKxtKL5AZLKCD7oHqQQ_YpL_s3Q34a-J12cX5jxXS-okwLMGKa6j4z-gkrv0ux04US0Kd2ElXlWP-pIWWQZxGz11H8cVqJr3hk34BnugoLjL837zntFyx41tOBAP30ldpKhbj_yxDoUG/s1600/Sigmund_Freud_1926.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRfKxtKL5AZLKCD7oHqQQ_YpL_s3Q34a-J12cX5jxXS-okwLMGKa6j4z-gkrv0ux04US0Kd2ElXlWP-pIWWQZxGz11H8cVqJr3hk34BnugoLjL837zntFyx41tOBAP30ldpKhbj_yxDoUG/s400/Sigmund_Freud_1926.jpg" width="266" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">S. Freud, em 1926, com 70 anos.</td></tr>
</tbody></table>
Não sei se haverá outro autor, outro cientista, outro homem, que tenha sido tantas e tantas vezes <br />
escrutinado em todas as dimensões da sua vida.<br />
Tomei recentemente contacto com o trabalho de Mikkel Borch-Jacobson, "Les Patients de Freud, destins".<br />
Borsch-Jacobson tem claramente uma cruzada contra o fundador da Psicanálise. Seja. Na obra, apresentado como filósofo e historiador; na Wikipedia como professor de Literatura Comparada e Francês; a sua tese de doutoramento foi sobre Freud. Ponto.<br />
Pergunto: será que algum dia alguém escrutinará, com a mesma veemência, outros autores-cientistas-clínicos como se insiste em fazer com Freud?<br />
Trago à consciência as elegantes e sustentadas refutações de António Damásio às contribuições científicas de Freud - sim senhor, modelares!<br />
Já agora, pergunto: o que conseguiu, até agora, este veemente autor provar acerca de Freud, inequivocamente?PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-6911020670497932062015-03-28T09:28:00.001-07:002015-03-28T09:29:43.067-07:00O heróico defensor dos habitantes do planeta Terra anda de metro em Lisboa<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O
heróico defensor dos habitantes do planeta Terra anda de metro em Lisbo</span></b><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">a</span></b><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">,</span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17.1200008392334px;"><i>em Lisboa dia 4 de Março de 2015, quarta-feira</i></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpgfPvt3dqKSWJP1ISQHC61FK-0b1t1_Bq2mes2XSPFo4nLII7DiXhM7PyQ9Ry6UNisNVE24Yn0LISgnDwLTg5lpR1TbtO941qqXrMoQw_0ju3nEM8Yai9MHkkteAgoUNXej01I9_Py2N8/s1600/star_wars_the_force_unleashed.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpgfPvt3dqKSWJP1ISQHC61FK-0b1t1_Bq2mes2XSPFo4nLII7DiXhM7PyQ9Ry6UNisNVE24Yn0LISgnDwLTg5lpR1TbtO941qqXrMoQw_0ju3nEM8Yai9MHkkteAgoUNXej01I9_Py2N8/s1600/star_wars_the_force_unleashed.jpg" height="320" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">http://www.moddb.com/groups/empire-at-war/downloads/<br />save-games-star-wars-the-force-unleashed-use</span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Pouco
passava das seis da tarde. Tinha acabado de deixar o encontro do British Bar das
quartas-feiras e voltava para casa como de costume: de metropolitano, na
estação do Cais do Sodré. Já lá em baixo, a chegar ao cais, a dúvida de sempre:
a composição do Metro vai aparecer do lado direito, ou do lado esquerdo?...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Do
lado esquerdo, os bancos estavam todos ocupados, e havia muitas pessoas de pé.
A composição não deveria tardar, e deveria aparecer por aquele lado; mas eu
queria sentar-me a ler. Do lado direito do duplo cais um dos bancos tinha apenas
um utilizador: um jovem, de 13 ou 14 anos, talvez. Os dedos do rapaz
metralhavam avidamente as teclas laterais de um desses já tão vulgarizados aparelhos
de jogos digitais, que a gente agora vê sempre quando se depara, nos espaços
públicos, com gente jovem – bastam dois rapazinhos, quase seguramente um deles
estará vociferando silenciosas imprecações contra jogadores de futebóis adversários,
inimigos de outros exércitos, ou invasores do Espaço. Seria o caso desta vez,
num brevíssimo inclinar do aparelho que tinha nas mãos, o rapaz deixou-me ver o
que parecia ser um cenário da Guerra das Estrelas. Os invasores não paravam de
provocar o esforçado lutador, defensor da Paz dos Homens – de todos, mesmo que
alguns de mais Boa Vontade que outros – no planeta Terra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Aproveitei
o largo espaço à esquerda do concentrado rapazinho, tão largo ainda que deu
para pôr também do meu lado esquerdo o livro do “filósofo maldito”, Slavoj
Žižek, acerca do atentado do Charlie Hebdo – poucas páginas me faltavam para
acabar de ler o tão recente ensaio, que falava de outras invasões e de outras
guerras. Ali deixado o livro peguei no jornal que, pouco antes, o meu parceiro
de cerveja me deixara. Nesta altura já eu avançava para as notícias das grandes
folhas de papel com espírito guerreiro, resolutamente disposto a enfrentar as
contendas para que os jornalistas-comandantes me quisessem desafiar. Viessem os
inimigos invasores, estaria pronto para eles, mesmo que o meu vizinho de banco,
ocupado que estava com outros invasores inimigos, não pudesse ajudar-me. Na
verdade, nem uma vez o defensor da Terra levantou os olhos na minha direcção;
nem noutra direcção qualquer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Não
passou muito tempo até constatar que as aparências mais uma vez me tinham
enganado: a composição do Metro chegou-se pelo lado em que eu estava, não pelo
lado em que, pela densidade de pessoas que o ocupavam, era praticamente segura
a dedução de que esse era o lado certo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Mesmo
ali à minha frente abriu-se a porta de uma das carruagens. Assim ela abriu,
assim eu entrei, com essa ligeireza, a antecipar-me às densas pessoas, um lugar
sentado ficaria garantido. Entretanto, o meu parceiro de banco não se mexeu,
manteve-se todo entregue à defesa da Terra. Igualzinho ao que estava quando entrei
na estação e me dei conta dele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Já dentro
da carruagem, sentado no lugar que escolhi entre a abundância deles, olhei pela
janela, ficara com uma curiosidade em relação ao rapazinho: esperaria ainda
alguém, ou estava apenas completamente absorto na luta para salvar a Terra?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O meu ângulo de visão não
me deixava ver senão a parte de cima do encosto do banco, para enxergar o que
ele seguraria ainda nas mãos teria de forçar a postura do tronco, elevá-lo,
para ganhar maior ângulo de visão, de cima para baixo; mas, verdadeiramente,
não tinha razão nem motivação para o fazer. Já me preparava para voltar à
leitura quando vi, pela primeira vez, o moço levantar os olhos da absorvente
máquina, que não parava de debitar extra-terrestres.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Olhou para a sua
esquerda, o ângulo de visão que me parecia ver sair dos seus olhos,
ligeiramente virados para baixo, levariam o foco da sua atenção para uma zona
ainda dentro do espaço do assento do banco que até havia bem pouco tinha sido
dele e meu. A seguir, levantou os olhos e fez uma varridela na horizontal da
posição natural dos olhos, da esquerda para a direita; só a cabeça parecia
mexer, até os braços pareciam quietos. Percorrido um ângulo de 180 graus, os
olhos do guerreiro rapaz, extremados à sua direita, iniciaram o regresso à
posição normal, continuando, entretanto, a explorar o espaço que percorriam;
claramente pararam a olhar para dentro da carruagem onde eu estava, pela porta
por onde eu entrara.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Precisamente nessa
altura, ainda antes de tomar consciência do que assim me mobilizava, e que só a
seguir se me clarificou no pensamento, saltei do banco onde me tinha
pressurosamente acomodado e corri a apanhar o livro do maldito filósofo. Sim,
fora isso mesmo: distraído com a leitura do jornal, tentando desembrulhar-me
com os meus circunstanciais extra-terrestres, artigo a artigo, deixara,
inconscientemente, o desagradável tema do Charlie Hebdo ali no banco, abandonado,
quiçá, desprezado. Note-se bem que eu não tinha visto ainda o livro quando
saltei do cómodo banco da carruagem, mas toda aquela sequência no comportamento
do defensor da Paz na Terra só poderia indicar o que eu acabei depois por
consciencializar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Peguei no livro e o
heróico guerreiro seguiu toda a sequência do meu repentismo. Acabámos por nos
olhar um ao outro, a primeira vez naquele tempo todo. Exibi-lhe o polegar
direito, naquele gesto em que queremos dizer que está tudo bem e ele ainda me
ouviu a deixar-lhe um cordial obrigado. Sorrimos um para o outro, por um
momento fomos aliados; ou melhor, por um instante eu fui um dos Homens de Boa
Vontade protegido pelo valoroso defensor do planeta Terra!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Sim, pelo menos desta
vez, na mente do jovem que só reconhecerei se o voltar a ver ali, sentado no
mesmo banco, na mesma empenhada luta entre o Bem e o Mal; dizia eu, pelo menos
desta vez, um sentimento de bem fazer se ligou à imaginária fantasia lutadora
de quem cresce à procura do que é capaz e do que vale a pena a pena fazer.<o:p></o:p></span></div>
PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-39177610323670201962013-11-10T15:48:00.000-08:002013-11-10T15:49:19.172-08:00Psicologia e efeito de estufa; precisar e desejar<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhajsicjMApgsgFQr92MfzCztL6wuQ0tmF-lS4xDqxVfOT-UdUbX1pB-z1Rrx27z7wJ-oTVN0zf19F6j0F8DPolBDcegmXul7F1c-JvVnDnjhVQs-98sjR0mwG4GxgJfOWrjoutucS5o2oX/s1600/Estrada+polu%C3%ADda.gif" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="256" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhajsicjMApgsgFQr92MfzCztL6wuQ0tmF-lS4xDqxVfOT-UdUbX1pB-z1Rrx27z7wJ-oTVN0zf19F6j0F8DPolBDcegmXul7F1c-JvVnDnjhVQs-98sjR0mwG4GxgJfOWrjoutucS5o2oX/s320/Estrada+polu%C3%ADda.gif" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="http://www.tvi24.iol.pt/internacional/poluicao-alteracoes-climaticas-efeito-estufa-atmosfera-onu-tvi24/1507316-4073.html"><span style="font-size: xx-small;">http://www.tvi24.iol.pt/internacional/poluicao-alteracoes-<br />climaticas-efeito-estufa-atmosfera-onu-tvi24/1507316-4073.html</span></a></td></tr>
</tbody></table>
As notícias - oficiais, mundiais - sobre o continuado aumento de emissão de gases poluentes para a atmosfera - não obstante tudo o que sabe de conhecimento seguro sobre a gravidade do assunto! - são mesmo muito desanimadoras.<br />
Quase sinto passar-me na mente, em pensamente automático, que o que mais urge, para proteger o futuro dos nossos filhos é combater a avidez americana e também a explosão consumista da China. Seguramente que a resolução dos grandes problemas da Humanidade que habita a periclitante saúde do Planeta Terra passa por tais combates, sejam quais sejam os outros que também tenham de acontecer.<br />
O Mundo precisa de medidas que regulem mais saudavelmente as sociedades; ao mesmo tempo, os países onde se vive, em geral, claramente acima do limiar da pobreza e da indigência humana, precisam de ver os comportamentos dos seus cidadãos claramente alterados, a partir de consciências esclarecidas.<br />
O modelo de desenvolvimento (desenvolvimento?!...) hoje em dia dominante na generalidade dos países privilegia o primado da perspetiva economicista. Estruturalmente baseado no crescimento contínuo do consumo individual, é um beco sem saída; mais, é uma caminhada suicida.<br />
Este modelo, repito, só é bem sucedido na condição do aumento constante do consumo. Seja por interminável acumulação, seja por permanente usa-e-deita-fora, esta estratégia de busca de níveis mais elevados ou satisfatórios de bem-estar (material) das pessoas e das sociedades é - já nem sequer apenas a longo prazo - desastrosa, dramática; e suicida. É, assim, a espécie humana preparando, com pressa evidente, as tábuas do seu próprio caixão.<br />
Egoístas, ávidos, egocêntricos, os países desenvolvidos, com os Estados Unidos da América e a China à cabeça têm de arrepiar caminho imediatamente; e têm de ser combatidos! Combatidos por movimentos de cidadania independentes dos partidos políticos institucionalizados.<br />
Ao mesmo tempo, como já quis eu alertar neste texto, há que olhar e repensar os comportamentos individuais. No fundo, as grandes mudanças precisam de ser preparadas durante um pouco mais de tempo.<br />
É a este nível, que envolve o esforço de pais e professores, que, no meu entender, cabe trazer, com toda a oportunidade, o que Bernardo Sores diz no Livro do Desassossego acerca do Romantismo (os detaques são da minha responsabilidade):<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<i>"O mal todo do romantismo é a confusão entre o que nos é preciso e o que desejamos. </i><b>Todos nós precisamos</b><i> das coisas indispensáveis à vida, à sua conservação e ao seu continuamento; </i><b>todos nós desejamos</b><i> uma vida mais perfeita, uma felicidade completa, a realidade dos nossos sonhos e (…)</i></div>
<div style="font-style: italic; text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<b>É humano querer</b><i> o que nos é preciso, e </i><b>é humano desejar</b><i> o que não nos é preciso, mas é para nós desejável. <u>O que é doença é</u> desejar com igual intensidade o que é preciso e o que é desejável, e <u>sofrer por não ser perfeito como se sofresse por não ter pão</u>. O mal romântico é este: é querer a lua como se houvesse maneira de a obter.</i></div>
<div style="font-style: italic; text-align: right;">
<br /></div>
<div style="font-style: italic; text-align: right;">
<i>«Não se pode comer um bolo sem o perder.»</i></div>
<div style="font-style: italic; text-align: right;">
<br /></div>
<div style="font-style: italic; text-align: right;">
<i>Na esfera baixa da política, como no íntimo recinto das almas — o mesmo mal. (...)</i></div>
<div style="font-style: italic; text-align: right;">
<i>A maior acusação ao romantismo não se fez ainda: é a de que ele representa a verdade interior da natureza humana. Os seus exageros, os seus ridículos, os seus poderes vários de comover e de seduzir, residem em que ele é a figuração exterior do que há mais dentro na alma, mas concreto, visualizado, até possível, se o ser possível dependesse de outra coisa que não o Destino."</i></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
Porventura será este o grande desafio para a Educação em todos os países do Mundo. Acredito que não há alternativa; e onde se verificar que não há vontade ter-se-á de opôr com persuasão; e se a persuasão não chegar, ter-se-á de se opôr com o combate frontal - ideológico e prático, sem violências físicas e psicológicas autoritárias. Não se fazer assim, já o disse, é o suicído das sociedades e do desenvolvimento humano, cuja representação ieal põe sempre os homens em ambientes paradisíacos da Natureza.</div>
PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-50931595159785426762013-09-28T06:21:00.000-07:002013-09-28T07:15:43.286-07:00A REALIDADE INTERNA E A REALIDADE EXTERNA. A FORÇA DE UMA E OUTRA.A REALIDADE INTERNA E A REALIDADE EXTERNA. A FORÇA DE UMA E OUTRA.<br />
<br />
Não abundam as oportunidades de percebermos com satisfatória nitidez a dimensão psicológica dos nossos comportamentos e do que determina a maneira como nos envolvemos com as pessoas que nos rodeiam (em casa, na escola, no trabalho, na sociedade...).<br />
Aquela coisa estranha, quase inefável, a que os engenheiros do comportamento - os psicólogos - deram o nome de "realidade interna", é, na verdade, uma coisa espantosa, de uma força tremenda. Muitas vezes - eu diria mesmo, quase sempre - são as crianças - naquelas fases em que naturalmente procuram, não as palavras adultas, sofisticadas, dos disfarces e das aproximações cautelosas às coisas e aos fenómenos, mas, pelo contrário, ia eu dizer, procuram a palavra, a frase, a forma certa, exata para que as palavras sirvam claramente, rigorosamente, o pensamento e o sentir - que nos mostram com jeito maravilhosamente límpido o que, afinal, todos nós - os adultos - sentimos... Sentimos mas, intrigantemente, à medida que fomos crescendo, perdemos a capacidade de saber expressar.<br />
Uma antiga aluna, por quem tenho um carinho muito especial, trouxe-me à fala um dos seus rapazes. Procurei, na breve conversa que tivemos, tão simplesmente que pudesse formar de mim, em sintonia com as suas necessidades e motivações pessoais, a apreciação e a imagem afetiva que quisesse; e combinámos voltar a conversar. A partir de agora, já poderá formar uma apreciação mais real, menos simplesmente imaginada, dessa pessoa que um dia apareceu na sua vida, com a fantasia de ser o Tio das Baleias. Também a partir de agora poderá preparar-se para a conversa aprazada, com o que de si quiser trazer, ele, que um dia pediu à mãe que lhe arranjasse um médico que o ajudasse a tratar os sonhos.<br />
Tio das Baleias, Médico dos Sonhos, a que mais desafios me levará esta criança espantosa?...<br />
O meu "sobrinho", o meu "paciente" vive intensamente, quase tempestivamente, a organização e a estabilização do seu mundo interior, aquele que nos faz sentirmo-nos pessoas únicas, portadoras de fantasias e desejos; de ambições e quase infinitas outras motivações.<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglc7adB_SP753HiORJDVnOqnEkJueeWKw5OEUZBYcWFs5Kg7-qfl14gDZWdLjM5z4TUszvHugShYBIwy9KZokfgGehol8lEJe7H5yiU_3LnX5iP6SUsF2pPMCiNeVs6bGP7JVi07P2fNyd/s1600/lua+e+lobo.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="249" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglc7adB_SP753HiORJDVnOqnEkJueeWKw5OEUZBYcWFs5Kg7-qfl14gDZWdLjM5z4TUszvHugShYBIwy9KZokfgGehol8lEJe7H5yiU_3LnX5iP6SUsF2pPMCiNeVs6bGP7JVi07P2fNyd/s400/lua+e+lobo.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="http://images5.fanpop.com/image/photos/28600000/Wolf-Moon-fantasy-28637592-1920-1200.jpg"><span style="font-size: xx-small;">http://images5.fanpop.com/image/photos/28600000/<br />Wolf-Moon-fantasy-28637592-1920-1200.jpg</span></a></td></tr>
</tbody></table>
Os sonhos são uma via privilegiada de organização da nossa vida mental interior, de progressiva separação entre o que nos põe em relação, por um lado, com tudo aquilo que existe e todos aqueles que existem para além de nós; e, por outro lado, com tudo aquilo que vem dos nossos sentires, dos nossos pensamentos, das nossas memórias. A natureza do nosso desenvolvimento limita-nos no modo de fazermos essa separação entre mundo interno e mundo externo. O ser humano precisa de tempo - tempo para que estruturas neurofisiológicas despertem e se estabilizem; tempo para que a Língua nos traga um número minimamente satisfatório de palavras que permitam representar, para os outros e para nós próprios, o que sentimos e o que queremos falar. E há sempre um tempo de amadurecimento de tudo, absolutamente indispensável. Aos poucos, a dimensão simbólica da experiência mental toma formas compreensíveis para o próprio e para que o próprio as partilhe com os outros. Por vezes, a organização da vida simbólica interior estabelece-se de forma muito turbulenta e sofrida. Simbolizar ajuda a compreender; compreender ajuda a dominar e a aceitar; aceitar ajuda a fazer das fraquezas forças.<br />
O sobrinho do Tio das Baleias debate-se, então, há bastante tempo, numa luta muito afligida para ele e para quem nunca lhe faltou ao lado - uma mãe tenazmente disponível. Luta entre ele e os sonhos que fazem parte da hora de dormir. Essa luta, mais tranquila na generalidade das crianças, é nele muito dinâmica, exuberante, tensa, dramática, que o impede de chegar à paz e à saúde do sono.<br />
Há pouco tempo, algures nessa luta travada com a aliada-mãe ali ao seu lado, uma coisa nova aconteceu. A trazer-lhe sinal de que poderia passar a ganhar a guerra. E explica à mãe o que sente, num jeito - espantoso e simples, como só as crianças conseguem fazer! - que ela me reproduz assim:<br />
- <i>"Houve uma vez que me disse que teve um pesadelo mas que era diferente dos outros... que este era com animais a sério... por isso não teve tanto medo..."</i><br />
Extraordinário! Os animais que metem medo não são os verdadeiros, por maiores que sejam as feras, são os que inventamos. O que vem de dentro de nós, tantas vezes sem a gente saber de onde vêm e porque vêm naquele momento, daquela forma, é bem mais poderosamente angustiante do que tantos perigos que vêm de fora, de tudo aquilo ou de toda a gente que existe e vive à nossa volta.<br />
Foi, portanto, desta forma lapidar que a criança nos trouxe à consciência e ao conhecimento a força do que tanto nos adultos como nas crianças nos ameaça o prazer de viver e a sensação de bem-estar que bem gostaríamos de teu em tudo o que nos envolvemos no dia a dia.<br />
Já um dia, há muitos anos, o Sérgio Godinho se interrogava num belo trecho musical sobre uma força estranha que aparecia pelo lado de dentro de cada um de nós, que nos tolhia mais do que as outras tantas que naquele tempo nos queriam impor. Perguntava-se ele<i>"que força é essa, que força é essa, amigo"</i>, que só nos manda obedecer, e que nos põe de bem com os outros e de mal connosco mesmos. Sim, é uma força tremenda, telúrica, que nos faz inventar animais bem mais assustadores que as feras que existem mesmo! É uma força que vem dentro de nós, que cresce e se agita bem para além da nossa vontade de a dominar.PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-73205572013767860112013-09-05T12:24:00.000-07:002013-09-05T14:16:20.345-07:00Polémica "Triagem dos Doentes" - médicos ou enfermeiros? Testemunho pessoalEste testemunho, tomo-o como uma obrigação.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDZWHhfjSioi7OfpVrAl4jDHQ0rpydDFiSAdhfWSpToqCgP4Hzj379a_Rlr3E4ttNSuzWpN9mQuuzVYI5lgZR8uPpHUXk52o_sC_bNO8-FQJGIuWgCosCXhVH7fZxUjfwvM2-tNtBG_Uu5/s1600/panfleto-protocolo-versc3a3o-final-curvas1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDZWHhfjSioi7OfpVrAl4jDHQ0rpydDFiSAdhfWSpToqCgP4Hzj379a_Rlr3E4ttNSuzWpN9mQuuzVYI5lgZR8uPpHUXk52o_sC_bNO8-FQJGIuWgCosCXhVH7fZxUjfwvM2-tNtBG_Uu5/s320/panfleto-protocolo-versc3a3o-final-curvas1.jpg" width="228" /></a></div>
Em menos de uma semana, um jovem, um grande amigo, de 20 anos de idade, trouxe-me, ao cabo de uma semana de formação política, o assunto. Não tem ainda (espero que nunca a eles chegue!) os vícios da política baixa, reles, mesquinha; tem ainda o sonho de fazer a experiência da política séria, honesta, ao serviço das populações reais que conhece e de que faz parte.<br />
Hoje, num canal informativo da TV, escutei parte de uma polémica disputada entre um alto representante da Ordem dos Médicos e um alto representante da Ordem dos Enfermeiros: discutia-se competência clínica, triagem de Manchester, asseverava-se o poder e o rigor dos fluxogramas... Pois...<br />
Que posso eu dizer, sem ser médico, sem ser enfermeiro, sem conhecer suficientemente o procedimento de Manchester, sem conhecer os fluxogramas; e sem ter a experiência pessoal das urgências médicas?...<br />
1) Tenho uma irmã médica a quem, muito provavelmente, devo a graça de estar ainda vivo: assinalou-me a tempo a eventual perigosidade de uma manifestação física, visível na minha pele. Subsequentemente, logo a seguir, o médico especialista da situação clínica quase me matou quando, depois de observação direta dessa manifestação física, a desvalorizou completamente, pondo-me na descida vertiginosa, sem retorno, da terrível doença. Por sorte, e a tempo, não me fiei nele.<br />
2) Um dia, um médico estava de serviço à urgência de um hospital. Eu estava num restaurante e o médico estava à distância de uma mesa de casal da mesa em que eu me encontrava. Chamado ao telefone, o médico reagiu visivelmente incomodado ao telefonema que estava a receber, mas tão distraído estava que não se deu conta que poderia ter ali por perto alguém que desse atenção à conversa que estava a ter (ele seguramente conversava com alguém hierarquicamente abaixo dele, no que dizia respeito às responsabilidades do ato clínico, médico). Pondo as palavras a acompanharem uma longa e irritada expiração, o médico rematou a conversa dizendo <i>"Pronto, está bem, eu vou já para aí..." </i>Desligou o telefone, retomou a conversa interrompida com a sua companheira de mesa, pegou outra vez nos talheres e atacou com eles a comida que ainda havia no seu prato, sem sinais de qualquer urgência. Não sei se a "unilateral" conversa que intercetei incomodou mais o médico ou me incomodou a mim.<br />
3) Tenho dois amigos, um casal, que são enfermeiros, e que são amigos extraordinários. São pessoas de uma disponibilidade pessoal e profissional que me dão confiança e tranquilidade imensamente saborosas.<br />
4) Há cerca de dois anos e meio tive uma das noites mais infelizes da minha vida, quando fui à urgência pediátrica do hospital de Santa Maria, para me juntar aos pais do meu neto kosovar, que aguardavam já, dramaticamente afogados nas incontroláveis lágrimas, o veredito dos médicos que tentavam salvar o seu bebé, que atingira apenas um mês de vida. Era o seu primeiro filho. Felizmente, quando a manhã nasceu, nasceu também uma outra alma para os pais e também para mim - a equipa médica conseguiu salvar o bebé!<br />
No caso do meu querido Déon, o momento decisivo - ou melhor, o primeiro momento decisivo - foi o momento em que o bebé chegou à urgência hospitalar aos braços dos pais: enquanto aguardavam angustiadamente a inscrição/triagem do bebé na urgência, de forma absolutamente inopinada, casual, passou ao lado deles um médico que estava de serviço na urgência pediátrica. O médico, sabe-se lá porquê, no meio de outros motivos que poderiam captar a sua atenção, pôs os olhos no bebé Déon. Fosse qual fosse o motivo que o tivesse levado a aparecer ali, naquele lugar, naquele momento, o que todos os que se acotovelavam naquele muito aflito espaço puderam ouvir foi a voz firme do médico dizer: <i>"Este bebé não pode esperar pela inscrição. Este bebé tem de ser visto imediatamente! Levem-no já para ali p'ra dentro!" </i>O desenlace feliz, já o apresentei com a brevidade suficiente.<br />
5) Que posso eu dizer, então sobre o assunto da triagem?... Que, a partir das ocorrências que vivi e relatei nos pontos anteriores, considero que as pessoas - os técnicos, os profissionais - mais competentes para fazer as triagens hospitalares são aqueles que são capazes de:<br />
5.1) ter o sentido da urgência humana das aflições que levam as pessoas aos hospitais;<br />
5.2) olhar com mais atenção e competência as pessoas doentes que chegam às urgências do que olhar os fluxogramas que os "protocolares" esquemas de triagem mandam ver primeiro que tudo o mais... até mesmo antes da própria pessoa doente.<br />
<br />
<br />PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-5618487133040416202013-06-25T17:14:00.000-07:002013-06-26T02:49:58.361-07:00“Abô”, disse ele.<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b>- Abô!...<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
O meu
neto hoje chamou-me, pela primeira vez, avô. “Abô”, disse ele.</div>
<o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal">
Foi o
pai, o meu filho, que o incentivou a dizer esta nova palavra do seu
vocabulário. O meu neto aderiu imediatamente, e disse “abô” uma, duas, três
vezes; até eu lhe perder a conta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O que o
Déon fez é especialmente extraordinário!... O pai, inspirado por um pensamento
súbito, não premeditado, brotado da fonte sábia dos afetos amadurecidos, foi
autor de uma notável experiência humana.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj63ALMi7y2nlManGdlFfOYYPRtWrRpScIy7I7FwvvGH5gEnVz-_kTbVYMMZkQwNByg23BT3YqD2QUDzCl5ogi_KNCMF9SMrWYA3aSdV00LmiI-E_bBQKy5wZoHZRean8E3l6vpLnbEyAU0/s1600/IMG_8052+red+50.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj63ALMi7y2nlManGdlFfOYYPRtWrRpScIy7I7FwvvGH5gEnVz-_kTbVYMMZkQwNByg23BT3YqD2QUDzCl5ogi_KNCMF9SMrWYA3aSdV00LmiI-E_bBQKy5wZoHZRean8E3l6vpLnbEyAU0/s320/IMG_8052+red+50.jpg" width="320" /></a> O Déon
nasceu em Portugal mas não é português. O pai do meu neto não é meu filho, tal
como a mãe do Déon. O Déon tem dois avós kosovares, que adoram o seu lindo
neto. O Déon gosta muito dos avós, que anseiam de saudades pelo neto de quem eu
sou avô.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O Déon
tem pouco mais de 2 anos, e não fala português. Vive com os pais na Suíça, fala
a língua materna dos pais. Se todas as crianças tivessem um pai e uma mãe como
o Déon tem, todo as as crianças do Mundo seriam muito felizes!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Eu não
estou com o meu neto desde novembro passado, quando ele foi viver para a Suíça.
Os pais moravam em Odivelas, foram para Zurique procurar melhor vida para eles
e para a família que estão a criar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O
Samir, o pai do meu neto, tem já a cidadania portuguesa há algum tempo.
Conheci-o em 1999, depois de ter sido convidado - sem que ainda hoje saiba quem e por que
razão fez que o convite me fosse feito na escola onde ainda leciono – a ir trabalhar lá para cima, em
Entre-os-Rios, com um grupo de
refugiados, que tinha acabado de chegar a Portugal, protegendo-se da guerra do
Kosovo. Não fui. Não fui mas indiquei quem fosse e garanti a orientação
sociopedagógica do trabalho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Quando
o grupo de cidadãos kosovares voltou para a sua terra, o Samir estava cheio de
vontade de continuar em Portugal. Pelos laços criados e porque queria fazer
pela sua vida; a sua terra não lhe oferecia perspetivas de desenvolvimento de
uma profissão. Mas ele tinha mesmo de voltar a Prishtina, a lei dos refugiados
de guerra não lhe dava outras hipóteses naquela altura. O melhor que consegui
fazer foi prometer-lhe que tudo tentaria para que ele voltasse a Portugal.
Pedi-lhe um ano para cumprir a promessa. Cumpri a promessa dentro do tempo que
lhe pedi. Entre a promessa e o cumprimento dela fui ao Kosovo visitá-lo, à
família e aos outros concidadãos que conheci em Entre-os-Rios e na Póvoa do
Varzim, para onde, entretanto, se tinham mudado a meio do seu tempo em Portugal.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Passaram
cerca de 12 anos entre o tempo de o Samir voltar de Prishtina a Lisboa e ir de
Lisboa a Zurich. Foi tempo de vida intensa, de um jovem que queria organizar a
sua vida, enfrentou e venceu problemas de saúde delicados; foi desafiado por
comportamentos e valores diferentes dos da sua cultura familiar e, sendo fiel
aos seus, criou um círculo de relações humanas extraordinário à sua volta. Foi
ao Kosovo a espaços e de lá trouxe uma muito bonita jovem como sua esposa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Logo no
início de abril de 2011 nasceu o Déon. Alguns meses antes, eu, como tantas vezes o fizera já, tinha reagido instintivamente
à vibração do telemóvel e levara a mão ao bolso. Era o sinal de uma mensagem
acabada de chegar. A mensagem dizia: “Vais ser avô”. A mensagem era do Samir.
Liguei-lhe imediatamente, pai e mãe tinham acabado de ter a confirmação da
gravidez da Arta. Algumas semanas depois o Samir mandou-me outra mensagem: “Vais ser
avô de um neto”. Ainda não apaguei essas mensagens do telemóvel.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O
nascimento do Déon foi uma festa discreta. Faltavam os avós, os irmãos, os
tios, os primos, as pessoas todas que gostamos de ter à nossa volta. Guardei muitas fotografias das primeiras 24 horas do bebé, e fiz dois ou três pequenos filmes; a minha preocupação era mandar imediatamente algumas imagens para os familiares no Kosovo. E passei a usar especialmente um desses filmes nas minhas aulas de Psicologia para falar da maneira como a comunicação humana acontece logo desde esses primeiros momentos, com participação e envolvimento muito ativo do bebé. Tudo
correu bem durante o primeiro mês de vida. Nessa altura, uma volta inesperada
na saúde do bebé pôs-nos aos três – mãe, pai e eu – na mais longa e mais
angustiante noite das nossas vidas. O bebé ficou muito perto de morrer. A
cirurgiã-pediatra pediu-nos para tomarmos a decisão que para mim era bem mais
difícil que todas as outras que alguma vez tive de tomar desde que me conheço
como sujeito que pensa, escolhe e decide. Salvámos o bebé, é agora um
“pilinhas” encantador, transborda vitalidade e alegria.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O Déon prodigaliza saúde, vitalidade e alegria, só que agora, como já disse, em
Zurique e não mais em Odivelas ou Lisboa. A primeira vez que ele me viu pela <i>webcam</i> no Facebook fez uma cara de
espanto, e ficou parado que nem estátua. A seguir, eu vejo-o voltar para trás, a
correr e a desaparecer da área de visão da imagem ao computador. Pouco depois –
que simbolismo tocante! – regressa, trazendo um enorme autocarro de turismo em
ambas as mãos. Era um enorme autocarro de brincar! Pára bem à frente do computador, fixa o olhar em mim e estende,
ainda com ambas as mãos, o autocarro! A seguir, sempre espontaneamente, baixa a
cabeça, com ar triste, faz beicinho, tem um ar suplicante. Olha-me outra vez.
Parece que me pede, se calhar, o que eu quero imaginar que ele me está a pedir:
que apanhe o autocarro e vá para ao pé deles, brincar com ele.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Depois dessa interação facebookiana, encontrei-me já mais algumas vezes com o Déon na Internet. É cada vez mais visível na vozita
doce do menino o domínio da língua dos pais e dos tios com quem ele vive lá na
Suíça.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Mas
hoje, o vocábulo novo, que o pai lhe falou com o afeto da língua materna foi
“avô”. E foi essa palavra, assimilada com o jeito das palavras da língua
materna, que o Déon me dirigiu na forma “abô”. E depois repetiu, repetiu,
repetiu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Foi
este precisamente o génio sábio, intuído, do meu filho kosovar, o Samir. Eu
nunca ocuparei o lugar dos avós (os “avôs”) materno e paterno. Não é isso que está em causa, não é essa sequer a natureza da dinâmica relacional em questão. Já disse lá mais para trás neste texto que os avós adoram o neto e o neto adora os avós. Eles serão "avô’s" na língua
em que todas as crianças kosovares chamam avô aos progenitores masculinos do
seu pai e da sua mãe. E eu serei o “abô”, o único que o Déon pronunciará desta
maneira. O “abô” do Déon, na sua palavra dita será um vocábulo identificador de
alguém – único, repito – que é afetivamente significativo para ele, bebé, como
são afetivamente únicos aqueles a quem ele chama mãe, pai, tio, avô, avó…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
São o
pai e a mãe que dão ao filho o nome, a palavra, que identifica os outros e as
coisas; e na carga emocional que os pais transportam nessas palavras, aos
poucos, essas palavras são ditas pela criança carregadas de emoções e
sentimentos próprios; laços afetivos e sentido de identidade pessoal.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O Déon
captou do pai, uma das metades essenciais do seu mundo relacional – e
praticamente mais nada existe na vida de uma criança desta idade para além
deste mundo; o mundo que será a matriz de tudo o mais que lhe surgirá daqui
para a frente, seja o que seja, traga que outros mundos lhe traga –, captou das
modulações de voz a que a criança é sensível, como só são minuciosamente
sensíveis as crianças nesta idade (é, na verdade, uma competência comportamental
fascinante ainda com muito por explicar pelos especialistas comportamentais destes fenómenos), o carinho, a confiança, a segurança
que vêm com a palavra que o pai lhe dirigiu e estes sentires ou sentimentos passarão
a fazer sempre parte da natureza real e simbólica da palavra. “Avô”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Os avós
kosovares do Déon sentirão o que a sua natureza humana, cultura familiar e
cultura social de origem lhes propõem que sintam quando os netos pronunciam a
palavra “avô”, na sua língua materna. Eu sentirei o que a minha cultura me
propõe sentir quando um petiz como o Déon me chama “avô”. E ele pronunciará
esse vocábulo com o mesmo jeito pessoal como pronunciará, na língua dos seus
avós, a palavra “avô”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Recebida
do pai, a palavra “avô” em português não é entendida como sendo de uma língua
diferente da língua materna em que comunica com os pais, em que pensa, em que
aprende, em que brinca. É essa palavra natural, maternal, que o Déon me diz
quando pronuncia “abô”; e – coisa espantosa! – eu recebo-a com o valor afetivo
e cognitivo que a palavra tem na minha língua materna! Foi esse o ponto de encontro que o Samir, o
meu filho que não é meu filho e que deu um neto assim que soube que a sua
querida esposa estava grávida, conseguiu hoje num momento de inspiração muito
afortunado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Fantástico,
Samir! Tão grande a generosidade do que me fizeste! Muitos parabéns pela
maneira sábia como lidaste connosco - o teu filho e este personagem de bigode que tanta atenção e ação já mereceu dele - e soubeste preservar o lugar próprio de
cada um de nós no universo relacional do vosso filho – de mim, do teu pai e do
pai da Arta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Vá, vai
lá, vai passear com o Déon, vai brincar com ele à beira do lindo lago de Zurique. E logo à noite,
quando a a hora de deitar chegar, conta uma linda história ao meu neto, para
que ele tenha o sono feliz dos anjos! Como se diz, em kosovar, “Era uma vez…”?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Fernando Pinto</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;">Em casa, 25 de junho de 2013</span><o:p></o:p></div>
PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-61823049602752463482013-06-22T02:53:00.000-07:002013-08-20T04:21:02.732-07:00A FORÇA DAS PALAVRAS DE JOÃO DOS SANTOS<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Imaginando-me a falar com João
dos Santos, ou a pensar ao lado dele<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">A FORÇA DAS
PALAVRAS DE JOÃO DOS SANTOS<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> <table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOaIDNoOGi1XCWOL4YgMnvOOLxX1sm_nf-4ovoffZ33EHKfu22lSH3UT5F7S2u0wCrCXXTdcLbYSGouHnaO2EyXeIrVux_NP5mo2T3fZCSZj0mqcM75HXSG5l1kfRRJm9atlsaf8ul8gEB/s1600/Jo%C3%A3o+dos+Santos%5B1%5D.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOaIDNoOGi1XCWOL4YgMnvOOLxX1sm_nf-4ovoffZ33EHKfu22lSH3UT5F7S2u0wCrCXXTdcLbYSGouHnaO2EyXeIrVux_NP5mo2T3fZCSZj0mqcM75HXSG5l1kfRRJm9atlsaf8ul8gEB/s1600/Jo%C3%A3o+dos+Santos%5B1%5D.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="http://ocantodaines.blogspot.pt/2013/04/amigos-dos-avos.html"><span style="font-size: xx-small;">http://ocantodaines.blogspot.pt/2013/04/amigos-dos-avos.html</span></a></td></tr>
</tbody></table>
Andei muitos anos zangado com
Fernando Pessoa. Muito mesmo! Disse isso já em muitas conversas, escrevi-o
também várias vezes (por exemplo, <a href="http://momentosfernandopinto.blog.com/2009/06/06/saudacao-aos-alunos-finalistas-da-eseq-em-200809/">aqui</a>). A reconciliação precisou de um intermediário, de um
mediador. O mediador foi João dos Santos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> O dr. João dos Santos apreciava
muito Fernando Pessoa, por mais do que uma vez, nas aulas, ele falou aos alunos
do curso de Psicologia da Faculdade de Psicologia de Lisboa, nas palavras
escritas pelo extraordinário poeta. O poeta era para o meu mestre um autor de
cabeceira. Nunca eu fiquei com a ideia de que o dr. João dos Santos estivesse a
usar esta expressão oral em sentido estrito, no sentido de se ler quando a
pessoa se acaba de deitar na cama, à hora do descanso da noite. Fiquei sempre
mais com a ideia de que era um autor que o acompanhava frequentemente, em horas
em que o cansaço pede, e as ocupações permitem, o recobro da atenção, do fluir do pensamento e do discurso falado, feitos,
pensamento e discurso, de palavras que esclarecem sentidos para o Próprio e
lhes dão formas comunicáveis para o Outro, que, na ação psicoterapêutica habitualmente é alguém que vem
ao encontro do terapeuta pedindo ajuda por intermédio da palavra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> <i>“Quem
não vê bem uma palavra não vê bem uma alma”</i>, escreveu um dia Fernando
Pessoa. Penso que era esse olhar profundo que o dr. João dos Santos procurava
nas palavras de Fernando Pessoa, que foi quem, precisamente, escreveu, por vontade e por
génio, em verso e em texto, palavras com esse sentido profundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Todos sabemos – o dr. João dos
Santos também o disse aos alunos – que Fernando Pessoa designou o Padre António
Vieira o imperador da Língua Portuguesa. Quem conhece os escritos do Padre
António Viera percebe porque pensa Fernando Pessoa assim, mesmo que não
concorde. Ora, no meu entender e penso que também no entender do dr. João dos
Santos, Fernando Pessoa é o grande sucessor de António Vieira na forma como
trata as palavras e as organiza em versos e frases de sentidos rigorosos,
precisos e claros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> O dr. João dos Santos tem
seguramente consciência do que Fernando Pessoa diz sobre a ideia de palavra e
do valor fundamental que ela encerra. Escreve Fernando Pessoa:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> </span><i><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">A palavra falada é um fenómeno natural; a palavra escrita é um fenómeno
cultural. O homem natural pode viver perfeitamente sem ler nem escrever. Não o
pode o homem a que chamamos civilizado: por isso, como disse, a palavra escrita
é um fenómeno cultural, não da natureza mas da civilização, da qual a cultura é
a essência e o esteio.</span></i><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> As palavras não nascem com os
indivíduos. Todos os indivíduos, assim que nascem, tornam-se membros de grupos
humanos que lhes trazem palavras que, aos poucos, vão sendo, como coisa
natural, a maneira de expressar, para eles mesmos e para os outros, <i>“tenho fome”</i>, ou <i>“o boneco, dá”</i>, ou <i>“Mãe!”</i>
Pode-se mesmo dizer que o universo relacional da criança – a criança de
desenvolvimento saudável normal – não existe sem as palavras; e quando o bebé
“pensa”, reconhece o que está a sentir, fá-lo com as palavras que começou a
receber logo que nasceu através das pessoas que existem à sua volta. E mesmo
que tenha começado por pensar ou reconhecer com imagens o que sentiu, as
representações mentais, para serem comunicáveis seguem habitualmente o caminho
da sua representação por palavras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> De tudo isto resulta a importância
que o dr. João dos Santos atribui à palavra, e a que também não é certamente indiferente
o que ele aprendeu e conversou com Henri Wallon e Serge Lebovici.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> A palavra é, na verdade… quase… um fenómeno
natural. Em rigor, as palavras são qualquer coisa já para além da simples
natureza dos sons articulados pelo aparelho fonador do ser humano. Até por
volta, em geral, dos dois anos de idade, a criança sente, e toma consciência
disso, que quer dizer <b>Não</b>. Antes,
ainda sem saber falar, a criança aprendeu a abanar a cabeça para mostrar ao seu
interlocutor que o que sente é <i>“Não!”</i>;
articula sons, gritos, choros, gestos e só mais tarde aprende a dizer <i>não</i>, ou <i>no</i>, ou <i>non</i>, ou…, ou…, ou…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Ora bem, para além da condição
natural ou cultural da palavra, o dr. João dos Santos tem o entendimento claro
da sua importância enquanto veículo de significados; mais, a palavra é veículo
e é corpo de significados. Por exemplo, quando alguém diz que <i>está um dia lindo de morrer</i>, o sentido
veiculado pelas palavras é outra coisa que está para além do corpo das palavras
que compõem a expressão, centrada à volta da palavra “morrer”, a qual, tendo
corpo para uma coisa, neste caso veicula o significado precisamente do seu
oposto: o que é lindo é viver num dia assim, de tanta luz!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> A mim parece-me que quando João dos
Santos diz, por exemplo, que <i>“a
instabilidade é a procura da estabilidade”</i>, ou que <i>“o xixi na cama é um sonho com o corpo”</i>, ele não está a fazer jogos
de palavras; isso sim, ele está a usar as palavras em sentidos ou significados
diretos, claros, que os interlocutores (quase sempre as crianças – ou porque
são crianças mesmo, ou porque é às crianças que estão nos adultos que João dos Santos se dirige) entendem com
precisão e não com sentidos ou significados simbólicos diferentes que podem ser
captados ou entendidos diferentemente por quem diz as palavras e por quem as
ouve. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> É esse rigor próprio, específico, da
palavra e, por extensão, da frase que, no meu entender, João dos Santos vai
procurar, vai ler e reler em Fernando Pessoa. O poeta e escritor tem esse dom,
o de nos mostrar no que escreve a capacidade que as palavras têm de dizerem o
que as pessoas sentem; e também de sentirem, através das palavras, o que, sem
elas, experimentam no corpo, nos afetos e na mente, mas sem conseguirem
reconhecer que sentem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Quando João dos Santos diz que <i>o adulto pode ajudar a criança a simbolizar</i>, entendo, em sentido lato, que ele conta com a palavra como o meio ou instrumento privilegiado para o fazer; e fazer outra coisa mais do que interpretar ou dar significado às manifestações comportamentais e aos sintomas das crianças. O desafio para o terapeuta (e para o pedagogo curador) é encontrar as palavras que a criança ainda não encontrou para os significados que já tem dentro de si e para as coisas que já sente mas ainda não consegue compreender. Acredito que António Damásio, que nos põe a pensar nas emoções como as formas primitivas (ou mesmo primordiais?) de pensamento, compreenderá o que estou a dizer.</span><br />
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Sabe-se, hoje em dia, que, pelo
menos em certos casos, é possível induzir numa pessoa uma emoção ou um sentimento
pela simples estimulação elétrica de todos os músculos (e pele) que participam
na configuração da expressão facial que a vivência pessoal de uma emoção – por
exemplo, a melancolia – produz. Quer dizer, quem nunca sentiu melancolia pode
ser induzido a senti-la por simples estimulação elétrica exterior, sem que esse
sentimento seja resultante de qualquer experiência relacional concreta anterior indutora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Com as palavras, tantas vezes
acontece o seguinte fenómeno, que, se calhar, é o que está no cerne das
perturbações psicológicas: as pessoas que não estão bem, que não se sentem bem,
não abandonam o seu sintoma – que é sempre um sinal interno que reclama ser
entendido (quem sabe?, até mais pelos outros do que por elas mesmas) -, não abandonam o seu sofrimento psicológico porque não sabem ou não conseguem encontrar a palavra que
veicula ou dá corpo à experiência vital – afetiva ou emocional – do bloqueio ou
do sofrimento psicológico que tal sintoma denuncia. O dr. João dos Santos é
mestre notável nesta arte de encontrar as palavras que desbloqueiam o que está
num impasse, ou que aliviam o sofrimento porque permitem que ele se transforme
noutras coisas mais suportáveis; e isso faz-se com o poder das palavras.
Palavras que são ditas ou que precisam apenas de serem pensadas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> <i>“A
linguagem fez-se para que nos sirvamos dela, não para que a sirvamos a ela.”</i> disse ainda Fernando Pessoa. É esse jeito único, no momento de estar com as
crianças, de se servir das palavras, que o dr. João dos Santos exibe com
mestria. Tranquila, serena, mas consistente mestria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> O terapeuta que vê bem a palavra,
ajuda quem o procura a ver bem a palavra que precisa; e quem vê bem a palavra
que precisa vê bem a alma que é a sua e a alma em quem se espelha, que é a do
terapeuta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Também ao educador cabe ajudar o
aluno a servir-se da palavra. João dos Santos diz que <i>é mais importante aquilo que se é do que aquilo que se sabe</i>. Talvez
o ser humano tenha inventado uma forma de existência em que só se é através da
palavra. Por isso a palavra é mais importante para o que se é do que para o que
se sabe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Fernando
Pinto<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">21 de
junho de 2013</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;"><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">(este texto foi escrito depois
de rever o dr. João dos Santos no documentário Photomaton a ele dedicado, visionado </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">no dia 20 de Junho, no Hotel 3K Europa em Lisboa, no âmbito da iniciativa da Sociedade Portuguesa de Psicanálise, UM SERÃO NA COMPANHIA DE JOÃO DOS SANTOS</span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">)</span></i></span></div>
PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9073440060825754844.post-77205635996443193122011-05-14T04:46:00.000-07:002011-05-14T04:46:53.423-07:00Ron Gutman: The hidden power of smiling | Video on TED.com<div>Para ver com atenção... para ver com um sorriso no rosto.</div><div>Vale a pena ver, mesmo ainda sem as legendas na nossa língua.</div><div>As ilustrações são muito boas, muito dinâmicas; ajudam muito a apanhar o fio da meada.</div><div>Vá, todos a sorrir!...</div><a href="http://www.ted.com/talks/ron_gutman_the_hidden_power_of_smiling.html">Ron Gutman: The hidden power of smiling | Video on TED.com</a>PortfolioFernandoPintohttp://www.blogger.com/profile/05742630153826483871noreply@blogger.com0