quinta-feira, 10 de agosto de 2023

II Encontro Internacional de Solidariedade Intergeracional

 Nos dias 7 e 8 de Setembro, na Amora e no Seixal.

Inscrição grátis na Junta de Freguesa da Amora (jfamora@jf-amora.pt).



quinta-feira, 1 de julho de 2021

MORREU O ÚLTIMO DA GERAÇÃO DE FORMADORES DA PSICANÁLISE QUE ME MOLDOU

MORREU O ÚLTIMO DA GERAÇÃO DE FORMADORES DA PSICANÁLISE QUE ME MOLDOU


João dos Santos, Maria Rita Mendes Leal (grupanalista), Pedroso Flores, Francisco Alvim, Pedro Luzes e Teresa Ferreira.

O último, António Coimbra de Matos. Morreu hoje.

Em rigor, nunca foi meu professor. Li muitos dos seus textos, assisti a muitas das suas palestras e supervisão de casos; eu próprio tive vários casos clínicos supervisionados por ele.

Nunca foi, nessa condição, um mestre que me agradasse especialmente. Senhor de um discurso clínico muito contundente, as suas concepções enraizavam-se no que de mais radical a Psicanálise produziu, num linguajar carregado da mais restrita mitologia sexual inconsciente como causa das perturbações da saúde mental.

Acontece que nunca duvidei que nele tinha eu um mestre que muito tinha para me ensinar e com quem eu muito poderia aprender; por isso nunca deixei de aproveitar as oportunidades que tive para o ouvir e ler.

Quando João dos Santos morreu, António Coimbra de Matos, objectivamente e aos meus olhos, ganhou outra dimensão. Foi com muito agrado que o vi ir-se transformando, trazendo-nos explicações e interpretações menos radicais das perturbações mentais e da intervenção psicoterapêutica.

Do ponto de vista da Cidadania, foi com entusiasmo que me reconheci no seu radicalismo de denúncia das condições políticas e sociais injustas que mantêm a exploração e o domínio de muitos por poucos — é que essas condições é que são as causas das mais profundas perturbações do bem-estar das pessoas. Neste campo, sim, quis — e quero! — manter-me tão radical quanto ele.

A partir de hoje, eu e a minha geração deixámos de ter, atrás de nós, na nossa rectaguarda, o último farol para que de vez em quando olhávamos à procura da palavra ou do pensamento que nos guiasse na dúvida, na incerteza ou no desconhecimento.

Sinto que agora é a minha geração que tem de manter os faróis bem iluminados para as gerações que nos seguem — senti-o hoje no mais profundo da minha pele, no mais profundo do meu ser.

Não podemos negar esse papel, temos de saber merecer os mestres que tivemos, temos de testemunhar-lhes a nossa mais profunda gratidão. Mais que com palavras, com actos.

Os nossos mestres vão continuar a manter os faróis a guiar-nos dentro de nós mesmos. Saibamos nós, com alegria, com crença, com determinação, com rigor, com humildade e com devoção, propormo-nos como guias para as mais novas gerações de aprendizes de feiticeiros.

No profundo sentimento de aconchego que neste momento os meus formadores na Psicanálise me despertam, eu envolvo os meus queridos colegas que a partir do ano de 1979 embarcaram comigo na fascinante viagem da Psicologia Clínica; alguns mais se foram juntando pelo caminho — para estes, a intensidade do abraço é a mesma.

segunda-feira, 23 de março de 2020

COVID-19: A GESTÃO DA ANSIEDADE, 1

COVID-19: A GESTÃO DA ANSIEDADE, 1

Não olhes já para a meta. Não a vais ver, e ficarás aflito - podes sentir-te incapaz e indefeso.
Olha só para os passos que podes dar hoje. Um dia terás a meta à vista.
É uma corrida individual, mas não é solitária, estamos todos nela.
Boa prova!

sábado, 2 de novembro de 2019

As razões do ódio: do primeiro episódio da série de Spielberg

Do primeiro episódio: AS ORIGENS
  • Naturalmente, os autores foram procurar a expressão da agressividade e do ódio noutras espécies animais, sobretudo das que estão geneticamente mais próximas da nossa.
  • Constataram coisas muito interessantes, e deram grande relevância às semelhanças e diferenças que existem entre espécies tão próximas, tantas vezes confundidas entre si: os chimpanzés e os bonobos.
  • Os chimpanzés expressam de forma bem mais intensa a agressividade e o ódio; e a competição, nos chimpanzés. Os bonobos são mais pacíficos e solidários.
  • As explicações são genéticas e ambientais. A disputa de comida ou a abundância de alimento disponível fazem a parte de leão da explicação das diferenças. A fazer lembrar o ditado popular "Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão".
A estas constatações, que acrescento eu? 
  • Que, como tantos autores observam, provam e afirmam desde os primórdios das civilizações - por exemplo, os gregos clássicos; os Abel e Caim das bíblias; os contemporâneos Richard Dawkins e António Damásio -, a agressividade é uma característica básica da nossa espécie - biológica, genética. Está ao serviço da vida, e a vida reclama, muitas vezes, competição. É verdade, não há Paraíso terreno, tanto para os que crêem em Deus, como para todos os outros.
  • Que vale muito o pensamento de Konrad Lorenz em que ele afirma que, no fundo, as diferentes experiências civilizacionais expressam muitas das tentativas dos grupos humanos para controlar, através do estabelecimento de rituais no contacto pessoal, seja entre conhecidos, seja entre desconhecidos, a manifestação da agressividade. Atenção! Está ele a falar da manifestação da agressividade que não serve a Vida, pelo contrário, põe em perigo a vida dos grupos humanos e das pessoas.
Que percepção tenho eu do que está a acontecer?
  • Que estamos em pleno tempo de grave extinção de espécies culturais e civilizacionais.
  • Que quero eu dizer com isto? Genericamente penso que, juntámos
    - um desenvolvimento social e comunicacional positivo (acesso mais livre, rápido, pessoa e directo à informação; e à muito acrescida possibilidade de todos comunicarem directamente com todos),
    - a pressa em comunicar (reduzindo imenso a reflexão sobre a informação acedida),
    - e a expressão de opiniões e tomadas de decisão mal informadas e avidamente moldadas por necessidades emocionais perturbadores,
    - a soma, no fim, é um muito mau resultado.
Em que resultou este muito pouco saudável comportamento aditivo?
  • Desdenhamos dos rituais civilizacionais, atacamo-los; e tudo o que sugira regulação ou controlo do comportamento pessoal e social é tomado como injusto, racista, xenófobo, discriminatório, excluidor. Cada vez mais praticamos, com raiva e intolerância crescentes, a velha imagem de deitar fora a água suja do banho do bebé e também o próprio bebé.
  • Das diferenças naturais fazemos oposições radicais em que só há o Zero e o Um: ou és dos nossos ou estás contra nós; ou pensas como nós e és porreiro e sábio, ou pensas outras coisas e és mau, perigoso e ignorante.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

″A Ordem da Fénix de Harry Potter dá um quarto de milhão de oportunidades para uma criança aprender″ - DN

O neurocientista Johannes Ziegler considera que o sucesso na área da educação depende, em grande parte, da aplicação dos conhecimentos que a psicologia cognitiva tem para dar. Vem esta quarta-feira a Portugal debater o tema na Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Johannes Ziegler é um reconhecido neurocientista em França. Estará em Portugal no final do mês para debater
Johannes Ziegler é um reconhecido neurocientista em França.
Estará em Portugal no final do mês para debater sobre
o papel da psicologia cognitiva na educação
© DR

É um dos segredos mais bem guardados da educação e uma das maiores preocupações partilhadas entre pais de alunos que entram no 1.º ano de escolaridade: como aprender e ensinar a ler? Na Europa, 19% dos jovens com 15 anos revelam dificuldades na leitura a nível mais básico. Já em Portugal, apesar de menor, este número fixa-se nos 17,2%. Johannes Ziegler, 52 anos, um reconhecido neurocientista francês, acredita que (quase) tudo pode ser solucionado com a ciência. Por isso, dedicou a sua carreira a estudar este tema, sobre o qual já tem dezenas de publicações.

É membro do Conselho Científico de Educação Nacional de França, diretor do Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS) francês, mas também do Laboratório de Psicologia Cognitiva da Universidade de Aix-Marselha. Atualmente, foca o seu dia-a-dia numa investigação sobre a eficácia do digital como ferramenta de ensino na escola primária. Mas terá tempo para dar um pulo até Portugal. Esta quarta-feira, a partir das 15.00, será orador da conferência "Como aprende o cérebro? O papel das ciências cognitivas na educação", promovida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, no Auditório do Liceu Camões, em Lisboa. O DN esteve à conversa com o investigador.

Há uma discrepância entre os resultados práticos da educação e o avanço do conhecimento científico, cada vez mais capaz de nos fazer entender os caminhos do cérebro e como chegar ao sucesso escolar. O que explica este cenário?
As explicações podem ser várias, na verdade. A primeira é que leva tempo até o conhecimento científico se disseminar. Há sim uma enorme lacuna entre este conhecimento e a prática educacional. Por exemplo, os cientistas conhecem os melhores determinantes para a fluência e compreensão da leitura, mas os professores precisam de saber como é que estes determinantes podem ser ensinados aos seus alunos de forma eficiente. Há um problema de falta de preparação na transferência de conhecimento científico para a prática em sala de aula. Alguns países são muito bons nisto, mas outros não.

O que é que a experiência lhe tem dito: os professores estão cada vez mais ou menos adaptados ao conhecimento que as ciências cognitivas têm provado sobre o cérebro humano?
Quando uma criança demonstra dificuldades em aprender a ler,
"a melhor estratégia continua a ser a intervenção intensiva da escola".
"Não há soluções mágicas", diz o neurocientista
© DR
Não acho que estejam cada vez menos adaptados, porque têm aprendido muito com a neurociência da educação, sobre o processo de aprendizagem, a atenção, a memória, etc. Mas, atualmente, há muito pouca preparação de professores para algumas destas questões. É preciso compreender, por exemplo, que o cérebro está a mudar drasticamente durante a adolescência, que pode ser também o início de muitos distúrbios psiquiátricos, como depressão ou esquizofrenia.

Não é compreensível que hoje, com as ferramentas cognitivas que temos, não as utilizemos para exercer educação...
Definitivamente que não. Estamos num ponto de viragem histórico. Antes, a educação estava exclusivamente nas mãos dos departamentos de formação de professores e ciências da educação. Agora, sabemos que a aprendizagem é complexa e acontece num contexto social complexo. Há muito a aprender com outras disciplinas: psicologia social (comparações sociais, atitudes, estereótipos), metacognição (autoeficácia, aprender a aprender, pensamento positivo), psicologia cognitiva (aprendizagem, memória, atenção, personificação), psicolinguística e linguística (linguagem, compreensão, gramática, leitura, aprendizagem de segunda língua), sociologia e economia (desigualdade, pobreza), neurociência (plasticidade, conectividade, oscilações, ciclos circadianos, recompensa, feedback), ciência da computação (ferramentas educacionais, big data), filosofia (pensamento crítico, raciocínio), matemática (como tornar a matemática concreta e incorporada). Seria um erro enorme voltar atrás nessas fabulosas fontes de conhecimento sobre o cérebro.


Dedicou-se a esta ciência toda a vida, mas particularmente ao estudo de como é que as crianças aprendem a ler. Qual o papel da psicologia cognitiva neste campo?
Graças à ciência cognitiva da leitura, agora sabemos os ingredientes cognitivos e linguísticos exatos, sabemos como o processo funciona, na medida em que podemos programar um modelo de simulação que aprende como uma criança. Aprender a ler e a ensinar a ler já não é uma questão de opinião, tornou-se uma ciência difícil. Conhecemos o mecanismo do processo, assim como compreendemos como funciona o motor de um carro. Também entendemos muito melhor o que pode correr mal. Podemos simular num computador dificuldades de leitura específicas e possíveis resultados de intervenção. Graças à neurociência, conhecemos agora os substratos neurais destes processos, sabemos onde ocorre a aprendizagem no cérebro, quais as regiões que estão envolvidas, a rede neural, a importância dos fatores genéticos e do ambiente.

Em Portugal, as aulas já se iniciaram há mais de dois meses. Aprender e ensinar a ler é, nesta altura, uma preocupação de muitos pais com os filhos que entraram no 1.º ano de escolaridade. A partir de quando é legítimo que estejam realmente preocupados com possíveis dificuldades?
Os pais e professores devem estar sempre atentos e solidários desde o início. Se uma criança tiver problemas para aprender as letras e a forma como soam, não há necessidade de esperar até que a criança acumule um atraso de leitura que seja suficientemente importante para qualificá-la como disléxica. A criança precisa de treino adicional (que deve ser sistemático e intenso) antes de ficar para trás. E atenção, que isto não significa já que essa criança é disléxica. Significa apenas que precisa de ajuda adicional.

Então, como é que os pais e professores devem responder na prática?
É fundamental que os pais ofereçam oportunidades de leitura, principalmente compartilhada, para estimular o interesse nos livros. Os professores precisam de garantir um bom ensino e um bom apoio. Se o atraso da criança for superior a dois anos (uma criança lê no 3.º ano como uma do 1.º ano), os pais e os professores devem preocupar-se em dar apoio adicional, começando por um diagnóstico formal. E, mesmo com um diagnóstico formal, a melhor estratégia continua a ser a intervenção intensiva da escola. Não há soluções mágicas.

As tecnologias podem ser um amigo ou inimigo desta aprendizagem? Porque falamos frequentemente sobre a importância de uma escola adaptada aos novos tempos, onde os alunos têm acesso a computadores e até a tablets, mas há estudos que afirmam que a compreensão de textos impressos é superior à compreensão de textos equivalentes no suporte digital.
Vou dar um exemplo muito simples: a Ordem da Fénix, da saga de Harry Potter, contém 257 mil palavras. Uma criança que é capaz de ler este livro num fim de semana terá um quarto de milhão de oportunidades de aprendizagem, supervisionada, em que o significado do que é lido à criança é descodificado corretamente. Isto é chamado de "autoensino". Nenhum professor e nenhum tablet podem fazer melhor do que isto.

Mas algumas crianças não têm esta iniciativa nem são estimuladas para ela...
Exato. O problema é que algumas crianças não chegam lá, não entram no ciclo de autoaprendizagem, em que a leitura fortalece a aprendizagem. Para estas crianças que lutam para aprender as letras e os seus sons, o software educacional pode ser benéfico porque um tablet pode adaptar-se ao nível da criança e apresentar letras e sons milhares de vezes num ambiente lúdico. Além disso, crianças com problemas visuais podem beneficiar do espaçamento extra das letras nos e-books.

Então, o sucesso da educação passa por caminhar lado a lado com a ciência...
O sucesso educacional não vem apenas da psicologia cognitiva, mas seria uma loucura não usar esta base do conhecimento assente em evidências. Sabemos muito sobre a atenção, a memória e a aprendizagem das nossas crianças. Os custos da inação seriam tremendos.



″A Ordem da Fénix de Harry Potter dá um quarto de milhão de oportunidades para uma criança aprender″ - DN

domingo, 7 de julho de 2019

NÃO É FÁCIL O GENUÍNO PERDÃO.

NÃO É FÁCIL O GENUÍNO PERDÃO.

A vivência pessoal do sentimento do perdão está directamente ligada ao sentimento de pacificação interior, essencialmente, do ódio, da raiva, da decepção, da vergonha, da incredulidade e da injustiça. Pede coragem; e pede sofrimento pessoal - por vezes, muito sofrimento. Temos de desistir de coisas que têm muita força dentro de nós.
Que nunca nos falte quem nos acompanhe e dê suporte nesse tão difícil caminho.


“Perdoem os vossos piores inimigos”, diz num vídeo gravado na última visita ao Museu Auschwitz, aqui citado pelo “The Guardian”. “No momento em que perdoei os nazis, senti-me livre de Auschwitz e de toda a tragédia que me aconteceu.” Afinal, para Eva, não é assim tão difícil contrariar os sentimentos fundamentalistas de raça que podem conduzir a um genocídio: “Tratar todos com respeito e justiça. Não são necessárias grandes leis, não é necessário nenhum governo”.(1)
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(1) Jornal Expresso.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Sobre a empatia...

“A empatia é como um músculo: se não for exercitado, atrofia, se for trabalhado, cresce.”

Assim falada, a autoria da máxima acerca da empatia é de Jamil Zaki.

Direi eu que Jacques de La Palice poderia também ser autor da afirmação. Não digo isto para a desconsiderar ou desvalorizar, mas para chamar a atenção para que qualquer um de nós poderia pensá-la, ou senti-la, ou dizê-la.
O problema da empatia é praticá-la e ter vontade de a praticar.
Só que praticar a empatia pede duas coisas:
  • tempo, e tempo é o que a generalidade das pessoas diz que tem pouco.
  • atenção dedicada, e as pessoas dizem que têm muitas coisas com que se preocupar e resolver
Jamil Zaki, ao contrário de outros que disseram o mesmo que ele disse, conseguiu ser ouvido e divulgado, ainda bem! Vamos aproveitar a onda!
Vamos treinar a empatia? Sim, vamos a isso!


Nota: uma entrevista de Jamil Zaki, em inglês, aqui.