sábado, 28 de agosto de 2010

QUI UULT CUSTODIRE SANITATEM - Preservação da Saúde

Pedro Hispano foi o único papa de origem portuguesa e foi também o único papa médico. Até hoje. Foi papa com o nome João XXI. Nasceu em Lisboa, possivelmente em 1210, e morreu em Viterbo em 1277.
Separam-nos dele quase oitocentos anos.
Foi sábio com os conhecimentos técnicos e científicos da sua altura como poucos conseguem ser hoje em dia com os conhecimentos técnicos e científicos disponíveis (incomparavelmente mais, em quantidade, diversidade e precisão).
Sem falar de auto-regulação do comportamento, é esse modo de viver que está implícito nos escritos que refletem o seu pensamento. E a definição de saúde que nos passa é uma obra-prima de simplicidade e clareza: "Saúde é uma disposição que conserva o que é natural no homem, segundo o curso da natureza."
Diz Pedro Hispano que a conservação da saúde da vida humana não se encontra no seio da arte da Medicina. "(...) os diversos padecimentos mórbidos originam-se no corpo humano por negligência" pelo que considera que "é melhor preservar a saúde do que lutar com a doença (...) É mais útil prevenir as doenças do que, uma vez contraídas, andar a pedir um auxílio, que provavelmente é impossível."
Numa época em que a obesidade já foi declarada pela O.M.S. como a epidemia global do século XXI, repare-se o que Pedro Hispano dizia sobre a saúde do estômago:
"Quem quiser manter sempre a saúde do estômago tenha cuidado em que receba a alimentação necessária, e não dê mais a si mesmo do que aquilo que pode digerir. E isto deve entender-se também acerca da bebida. Diz Galeno: Alguns comem para viver, como pessoas que vivem com sobriedade, mas alguns vivem para comer, como pessoas que vivem na gula. Por conseguinte, o intuito desses é comer, e não viver. Do mesmo modo diz Galeno: a abstinência é um remédio perfeito. Ora a abstinência é de dois tipos, universal e particular. É universal quando se faz a abstenção total de comida e bebida, jejuando durante muito tempo. Então o estômago excitado atrai os humores de todos os órgãos, que por último geram nele as doenças, assim como os órgãos esvaziados as tiram do estômago. Por isso não é prudente jejuar em excesso. A particular consiste na abstenção de produtos semelhantes e dos humores dominantes, como o colérico dos coléricos, o fleumático dos fleumáticos e assim dos restantes humores. Os mestres antigos preceituaram que se comesse pouco, a fim de o calor natural ser proporcionado à digestão. Pois, se comermos o que o calor não puder digerir, gera-se o fastio, pelo qual o sangue se corrompe, e se provocam todas as doenças mais graves."
Concluindo: é melhor preservar a saúde [antes] do que curar as doenças [depois]; e preserva-se a saúde regulando-se a atração para os excessos do que se ingere.
(a partir de Pedro Hispano, Livro sobre a Conservação da Saúde, edição da Heartbrain, Consultores em Comunicação, Ld.ª, 2008)

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